Artigo

Alternativa para a sociedade

Tenho abordado o tema com certa regularidade e insistência nas páginas do Correio Braziliense, pois vislumbro a solução de várias das nossas mazelas socioeconômicas nacionais nesta possibilidade de construção de novos contextos

Fernando Brito
postado em 03/05/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A nutricionista e socióloga Elaine de Azevedo, autora do livro Alimentos orgânicos e professora da Universidade Federal do Espírito Santos publicou um excelente artigo em recente edição do Le Monde Diplomatique Brasil. Intitulado Neorrurais: os imigrantes da utopia, o texto descreve a curiosa e crescente tendência de um “êxodo” urbano rumo ao espaço rural, protagonizado por pessoas da classe média, de diferentes perfis profissionais, em busca de um novo paradigma de estilo de vida, “no rastro de um símbolo de harmonia, solidariedade e comunidade”.

Tenho abordado o tema com certa regularidade e insistência nas páginas do Correio Braziliense, pois vislumbro a solução de várias das nossas mazelas socioeconômicas nacionais nesta possibilidade de construção de novos contextos. Da violência urbana ao esgoto que corre pelas ruas e polui os rios, várias seriam as transformações positivas, se adotássemos em larga escala um modelo de desenvolvimento alicerçado no respeito ao meio ambiente.

Na prática, no entanto, a viabilização da proposta vai esbarrar no velho debate acerca da “reforma agrária”. A expressão anda um tanto abandonada, taxada de antiquada, mas a verdade é que nunca foi levada muito a sério, mesmo em governos considerados de “esquerda” — mas não é este o ponto. Sem pretender atiçar o por demais tenso debate em torno dessa polarização política — que rasteiro e extremista não nos permite avançar de forma propositiva e construtiva —, a solução passa pelo respeito ao direito à propriedade privada, sem desconsiderar, aliás, também, resguardando o uso social da terra.

Bom mesmo seria que não necessitássemos de leis e, por uma súbita iluminação e elevação da consciência, os senhores latifundiários compreendessem a virtude e a nobreza de oferecer o território a atividades voltadas à sustentabilidade. Impossível? Não mesmo. Bem aqui perto de Brasília, em Terezópolis de Goiás (GO), conheci uma bem-sucedida ecovila, organizada em uma grande fazenda, com a proposta de substituir gradativamente o sistema convencional de monocultura. Além de uma exemplar contribuição para a vida no planeta, pois converte desérticos campos de soja em jardins diversificados, tem sido um excelente negócio para o empreendedor, que faturou uma boa quantia com a venda dos terrenos e permitiu o acesso à terra para aqueles que a buscavam.

A parceria entre a classe média e os grandes proprietários parece um caminho viável para essa necessária transformação do modelo de uso e ocupação do solo. Mas como fazer em relação às populações mais carentes, que habitam favelas — muitas delas controladas por violentas organizações criminosas — e não dispõem de recursos financeiros para comprar um pedaço de chão? É nesse ponto que carecemos de políticas públicas efetivas, que elaborem incentivos e benefícios que viabilizem essa transição do urbano caótico para a vida no campo moderna e produtiva. Poderíamos, por exemplo, quitar dívidas dos latifundiários com assentamentos sustentáveis de famílias rurais. São inúmeras as possibilidades, e a Esplanada dos Ministérios tem (ou deveria ter) gente suficiente para planejar e executar essas ações.

Enquanto os desafios se multiplicam (das crises sanitária e climática ao nosso dramático desemprego), uma coisa parece certa: a ação entre governantes, empresários e a comunidade pode nos apresentar urgentes propostas para a construção de uma sociedade sustentável.

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