OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — A força da grana sobre o meio ambiente

Correio Braziliense
postado em 06/05/2021 06:00

Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

No bate-boca entre o ministro Ricardo Salles e deputados que integram as comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Viação e Transporte, em reunião comandada pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), na segunda-feira, estranhamente nenhum dos lados em contenda tinha a posse de um naco sequer de razão. Chega a ser constrangedor ter que assistir a um espetáculo desse de tão baixa qualidade e significação para a sociedade, principalmente agora que o mundo passou a olhar com lupa as andanças protagonizadas pela equipe que cuida dessa pasta e que, ademais, faz apenas o que ordena o presidente e sua “assessoria paralela”, composta pelos mesmos personagens que colocaram o chefe do Executivo na mira da CPI da Covid.

É o que parcela da população escolheu ter no comando do país e na representação política no Congresso. Uma coisa é certa: os constantes bate-bocas entre representantes do governo e parlamentares têm servido apenas para levar ao descrédito, uns e outros, retirando-lhes as características primordiais de autoridades, essenciais para todo e qualquer Estado que se quer respeitado.

Os chamamentos de “moleque”, vindos de um lado e de outro, resumem bem o que foi essa reunião. São cenas que não são vistas apenas no Brasil, mas correm o mundo e dão um retrato bem acabado do que temos em mãos. Não há como negar que a questão do meio ambiente no Brasil nunca foi levada a sério. Por décadas, o palanque político armado em cima desse tema, com promessas e muita falação, jamais impediu o avanço do agronegócio sobre as florestas, o desmatamento, os incêndios e a morte de defensores das florestas.

Jamais serviu, também, para fechar os olhos do mundo sobre nosso descaso histórico com o nosso patrimônio verde. Com Bolsonaro, no entanto, o descaso com a preservação do meio ambiente é patente e sem encenações, tanto nos discursos quanto na prática. Na Cúpula do Clima, o presidente blefou, já que não vai cumprir nenhuma das metas para eliminação de carbono, tanto é que já cortou o orçamento para fiscalização e combate aos incêndios em mais de 34% neste ano em relação a 2019.

Salles sabe disso. Os Estados Unidos sabem e a Europa também. Tanto é que as maiores redes de supermercados europeus já anunciaram que irão parar de vender produtos do Brasil caso o projeto de lei n° 510/2021, que tem apoio do Planalto, seja aprovado. O referido projeto, poderá mudar radicalmente a lei brasileira de proteção das terras públicas, prevendo que aqueles que desmataram, mesmo ilegalmente, poderão se tornar posteriormente donos dessas glebas já ocupadas, numa inversão total do que seria minimamente razoável.

O mundo vê esses absurdos e sabe que, no atual governo, os níveis de desmatamento e de incêndios, tanto na Floresta Amazônica quanto no Pantanal, têm sido um dos maiores da história. O avanço da monocultura e do gado sobre as florestas e o Pantanal têm sido internacionalmente acompanhado pari passu e, por isso mesmo, chamado de marcha para a morte. Infelizmente, os interesses políticos e econômicos continuam, como nunca, a pautar o destino de nosso meio ambiente.

 

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