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Visto, lido e ouvido — Da competição à colaboração

Correio Braziliense
postado em 07/05/2021 06:00

Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Para tempos excepcionais, medidas excepcionais. Assim deveriam proceder todos aqueles países que, uma vez tendo dominado a tecnologia e a fórmula biológica, capaz de trazer à luz a vacina contra o vírus da covid-19, abririam mão dessas patentes preciosas e de todo o segredo industrial da produção, em socorro à humanidade nesta hora de desespero para todos. Mais do que um segredo e uma conquista do intelecto, capazes de render altíssimos lucros aos seus detentores e aos laboratórios farmacêuticos, a questão das vacinas ganhou, neste momento específico, uma tal importância e urgência sanitária que qualquer outro conceito de valorização material dessas fórmulas perde seu significado diante do fato de ser essa a única alternativa para bilhões de habitantes do planeta.

Trata-se, como afirmam muitos cientistas, de uma decisão que poderá antepor a ética e os valores humanos, como a dignidade e a vida, contra outros conceitos, como o lucro e o poder. O presidente dos Estados Unidos, onde a vacinação da população é a mais adiantada entre todos os países do Ocidente, já se pronunciou, extraordinariamente, a favor da quebra de patentes de vacinas, numa postura historicamente contrária às adotadas por essa nação, que tem como seus princípios a defesa de todas as suas propriedades intelectuais.

Para que sirva de lição para outros mandatários claudicantes que não enxergam no ensino de qualidade e no incentivo à pesquisa um fator de prosperidade, hoje países ricos em minérios, petróleo e outros ativos primários estão, literalmente, à mercê daquelas nações que, mesmo sem recursos materiais, são capazes de gerar tecnologia de ponta, como é o caso desses remédios providenciais.

Tecnologia, não custa dizer, é hoje o referencial a indicar se um país é ou não rico e próspero. O Brasil, que até há pouco tempo detinha ao menos um conhecimento na administração em massa de vacinas, perdeu terreno nessa importante área da medicina, pela falta de políticas e de incentivos do Estado, cujos cortes nos orçamentos e a pouca valorização das pesquisas nas universidades são a parte mais visível.

Ir contra a ciência em pleno século 21 é muito mais do que uma aposta errada. É suicídio. Mais e mais lideranças, prêmios Nobel e personalidades de todo o mundo estão se unindo numa corrente para que vacinas contra essa virose sejam um bem comum a todos os habitantes da Terra.

Pode ser que essa universalização de esforços para salvar a humanidade seja uma das boas consequências geradas pela pandemia e quarentena mundial, capaz de mudar o referencial da nossa espécie, de competidor insaciável para colaborador solidário.

 

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