Visão do Correio

Artigo: O temor de uma terceira onda

Correio Braziliense
postado em 08/05/2021 06:00

Na segunda-feira, o país registrou, pela primeira vez em quase dois meses, menos de mil mortes (983) por covid-19. Nos dias que se seguiram, porém, o número de pessoas que perderam a vida para a doença voltou a ficar próximo dos 3 mil em dois: 2.966, na terça-feira; e 2.811, na quarta-feira. Na quinta, recuou para 2.550 e, ontem, ficou em 2.165. Sem o país conseguir acelerar a imunização contra o coronavírus e diante do alto patamar de óbitos diários, acima de 2,2 mil na média móvel de sete dias, especialistas alertam para o risco de uma terceira onda da pandemia no país.

Os alertas, que vêm do exterior e de autoridades no próprio Brasil, são preocupantes. “Podemos estar no início do acontecimento de uma terceira onda”, disse o secretário de Saúde da capital paulista, Edson Aparecido, em entrevista à GloboNews, na quinta-feira. Como resultado desse temor, ampliado pela flexibilização de atividades produtivas no estado, contou ele, o município decidiu permitir que organizações sociais importem kits de intubação. A medida, explicou, é para que a cidade esteja preparada na eventualidade de um recrudescimento da covid-19.

Em Minas Gerais, a prefeitura de Belo Horizonte também trabalha com a hipótese de uma terceira onda de contágios e mortes no país. “Com o andar da vacinação, a gente espera que essa terceira onda não aconteça, mas o nosso planejamento é que, se ela acontecer, nós teremos insumos, teremos leitos, teremos pessoal disponível para fazer frente a essa possibilidade. Então, nós trabalhamos, sim, com essa possibilidade, mas esperamos ardentemente que ela não aconteça”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, em entrevista coletiva na quinta-feira.

Com mais de 15 milhões de casos e quase 420 mil mortes por covid-19, o Brasil não dá sinais de controle sobre a pandemia. No caso de uma possível terceira onda, estudos feitos por pesquisadores do Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington (EUA) traçam cenários nada animadores para os brasileiros. No mais provável deles, baseado na atual situação do país, a projeção é de mais 575 mil mortes até 1º de agosto. Na estimativa mais pessimista, 688,7 mil pessoas perderiam a vida para a doença, com pico de 4,2 mil mortes diárias.

Apesar de, em estudo anterior, o instituto americano ter apontado um quadro ainda mais trágico para o Brasil, o epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário nacional de Vigilância Sanitária, observou, em entrevista à TV Record, que os pesquisadores da Universidade de Washington têm acertado as previsões. Ele atuou no combate à pandemia ao lado do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e alerta que a situação pode piorar ainda mais se a população relaxar nas medidas protetivas. “Além disso, devemos considerar a possibilidade de já termos a circulação da variante da Índia no Brasil”, disse, em entrevista à emissora.

Diante de diagnósticos tão sombrios, é inadmissível que autoridades brasileiras persistam na irresponsável escalada de agressões à China. Antes de tudo, o Ministério da Saúde precisa se concentrar na compra de imunizantes para a vacinação em massa da população. Sem vacinas e sem respeitar o uso de máscara e medidas de distanciamento social, o país não conseguirá, tão cedo, superar essa gravíssima crise que a pandemia impôs à saúde, à educação e à economia.

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