Por DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR — Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro titular da Academia Brasileira de Pediatria, atual presidente do Global Pediatric Education Consortium (GPEC)
O Dia das Mães é uma data sagrada da humanidade. Deve ser assim considerado para inspirar as merecidas comemorações. De fato, o exercício da maternidade é uma missão sublime e insubstituível da mulher, à qual a espécie Homo sapiens deve sua história ao longo de milênios. O papel dos pais é também relevante, mas de outra natureza. A alma materna é a essência humana do amor que constrói, desenvolve, inspira e mantém uma família. Seu grande valor vem do espírito, não da matéria. Quanto mais maternal for a unidade familiar, melhores serão as mentes que a constituem. É como há de ser reconstruída uma sociedade humana capaz de superar, com o equilíbrio fundado na sábia convergência social, as pandemias e outras tragédias que certamente ainda agitarão a sua história.
As novas gerações da espécie nasceram, nascem e nascerão do útero materno. É uma verdade incontestável que salta aos olhos de todos os que pensam numa vida realmente natural. Ademais, não se deve menosprezar o período mais decisivo da existência de um indivíduo. É a chamada fase pré-natal ou intrauterina.
Concebido e fecundado, o novo ser humano em formação habita o organismo de sua mãe por um período normal de nove meses, findo o qual é dado à luz. A complexidade, o dinamismo e a celeridade dos fenômenos biológicos e progressivamente mentais constroem células, tecidos, órgãos e sistemas que compõem o organismo fetal. Mostram a dimensão realmente incomparável do processo construtivo que gera o recém-nascido em conformidade com suas bases genéticas, cada qual com o potencial humano que lhe é inerente.
Nessa etapa da vida fetal, assim como na infância, a missão da mulher é única e insubstituível. Ser mãe é assegurar o cenário uterino ideal para o novo ser humano. Inclui nutrição adequada, ausência de exposição a substâncias tóxicas, prevenção de doenças infecciosas, tranquilidade e redução do estresse, evitar poluição sonora ambiental e manter a plena sintonia do seu amor materno com todos os processos que geram o organismo do seu filho. Somente o corpo da mãe possui estrutura adequada ao desempenho de tão nobre missão. Exemplo é a placenta, por meio da qual as substâncias essenciais a cada uma das funções acima descritas chegam ao organismo do feto. Outro exemplo são as mamas que começam a crescer na puberdade e se avolumam na gestação, quando produzem o leite materno, alimento prioritário para a saúde dos lactentes.
A formação do cérebro humano inicia-se na fase pré-natal e tem continuidade na vida extrauterina durante a infância. Sua maior velocidade de crescimento ocorre na vida intrauterina. Do sexto ao nono mês da gestação, o aumento do cérebro é, em média, de 3g/dia; até o sexto mês de vida extrauterina, é de 2g/dia; do sexto mês ao terceiro ano é de 0,35g/dia; e do terceiro ao sexto ano é de 0,15g/dia.
Após o nascimento, a criança interage com o meio ambiente bem mais que na gestação. É prática indispensável, a ser protegida pela família, a fim de que o potencial genético do recém-nascido não seja deturpado. Só assim o crescimento do cérebro, em contínua diferenciação, será respeitado ao longo da infância, assegurando-se aos futuros adultos uma mentalidade criativa, respeitosa, pacífica, altruística, igualitária e construtiva. É a virtude inerente à maioria dos recém-nascidos, definida como potencial cognitivo cuja viabilização requer investimentos orçamentários adequados. Um grande retorno será a riqueza do denominado capital cognitivo, que não equivale à do capital financeiro. Na verdade, o conceito de riqueza precisa ser revisto. Não pode mais se restringir ao acúmulo de bens financeiros. Deve prevalecer a visão segundo a qual riqueza é uma vida digna para todos os cidadãos. Somente o crescimento do capital cognitivo da sociedade humana será capaz de funcionar como uma bússola, para o verdadeiro desenvolvimento da humanidade.
Em suma, torna-se evidente que a função materna é prioridade absoluta. As mães não podem ser desprezadas. O mérito do seu trabalho em benefício da cidadania há de ser cultivado de maneira concreta e democrática. Todas as mulheres que se tornarem mães, com a natural dedicação exclusiva, portanto mamães, devem ser remuneradas pelo Estado brasileiro com um salário que lhes permita dedicarem-se inteiramente à família para a realização de uma carreira maternal, cujos fundamentos são irrefutáveis. Será um sólido investimento público em favor das novas gerações do país. Assim, o Dia das Mães há de ser comemorado como o Dia das Mamães.
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