Hoje, segundo domingo de maio, é Dia das Mães. E, pelo segundo ano seguido, será um dia diferente. Festejamos por aquelas que sobreviveram ou não foram alvo da pandemia. Lamentamos, profundamente, a derrota imposta pelo coronavírus a muitas delas. Choramos por aquelas que deram à luz, mas não conseguiram conhecer o filho ou a filha. Emergiu, com muita força, o sentimento de solidariedade aos milhares de órfãos, para os quais a data perdeu significado.
As mulheres grávidas e as puérperas tornaram-se frágeis na crise sanitária. Quase mil bebês não conheceram as mulheres que lhes deram à luz. Estima-se que 45 mil crianças e adolescentes ficaram órfãos, seja de mãe, seja de pai, seja de ambos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os impactos dessas perdas terão repercussão na vida dessa geração, boa parte dela acolhida por familiares — substituir pai e mãe não é tarefa fácil.
Nos primeiros quatro meses deste ano, houve aumento de 61,6% na taxa semanal de mortes entre a população em geral na comparação com 2020. Entre as gestantes e puérperas, a alta foi de 145,4%, de acordo com o Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) Covid-19.
No universo feminino, as mulheres negras, grávidas ou não, são as que mais morrem, numa proporção de 140 contra 85 de não negras para cada grupo de 100 mil, segundo estudo do Instituto Polis. De modo geral, negros de ambos os sexos são os mais afetados e os que mais morrem, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde o início da vacinação, em janeiro, até agora, o Brasil imunizou menos de 20% dos mais de 211 milhões de brasileiros. O processo segue lento e inversamente proporcional ao aumento do número de infectados, que passam de 15 milhões, dos quais 422 mil perderam a vida.
Os insumos necessários à produção de imunizantes vêm do exterior, principalmente da China. Mas o governo federal não perde a oportunidade de, na contramão da diplomacia, levantar suspeitas improcedentes contra o fornecedor do ingrediente farmacêutico ativo (IFA), indispensável à fabricação de vacina.
Enquanto as regras sanitárias e a vacinação não forem respeitadas, o cenário será de consternação, em quaisquer datas comemoradas tradicionalmente pela sociedade brasileira. Não haverá motivos para celebração. Acelerar o processo de vacinação e garantir atendimento médico-hospitalar adequado aos cidadãos, sobretudo às mulheres, são obrigação do Poder público. Ser negligente com essas atribuições é negar direitos e conspirar contra a vida de todos.
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