Em funcionamento efetivo há quase duas semanas, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as ações e omissões do governo no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus tem cumprindo seu papel. Por mais que cenas inaceitáveis como as vistas ontem, em que os senadores Flávio Bolsonaro e Renan Calheiros trocaram pesadas acusações, turvem o ambiente, há muito a ser esclarecido. É imperativo que se preste contas a toda população, em especial, aos familiares e amigos dos mais de 425 mil mortos pela covid-19.
Todos os convocados a prestarem depoimentos à Comissão têm a obrigação de dizer a verdade ao serem questionados pelos senadores, independentemente da coloração política que tenham. O Brasil está diante de uma grave pandemia sem que a maioria da população saiba quando será imunizada. Está claro que, se o Ministério da Saúde tivesse agido a tempo e a hora, com certeza, milhares de vidas que foram perdidas teriam sido preservadas. Famílias não seriam destruídas, pais não teriam perdido precocemente seus filhos, crianças e adolescentes não ficariam órfãos.
É verdade que o histórico de boa parte das CPIs tocadas pelo Congresso não é dos melhores. Por isso mesmo, a atual Comissão deve realizar o melhor trabalho possível para dar uma resposta à descrença que domina os brasileiros. A Comissão não pode se desvirtuar de seu propósito e se transformar em palanques para quem quer que seja. O Brasil merece respeito. Já se está pagando um preço alto demais com tantas mortes e uma economia em frangalhos, com desemprego recorde e inflação em alta. O que se quer é puramente a verdade, nada mais do que isso.
Aqueles que não têm nada a temer não precisam se preocupar com os resultados que serão apurados pela Comissão Parlamentar de Inquérito. Pelo contrário, devem contribuir para que tudo seja investigado com rapidez, de forma a punir todos que foram negligentes com a mais grave crise sanitária em um século. As pessoas necessitam ter a certeza de que a impunidade não prevalecerá, que a pizza não será servida nos bastidores, quando milhares estão chorando por suas perdas. Os senadores devem isso ao país. É questão de Justiça, não de política, de acerto entre pares, em que pouquíssimos ganham.
A cada depoimento, pontas vão sendo amarradas e vai ficando claro como a negligência destruiu um dos programas de imunização mais eficientes do mundo. Não fosse o negacionismo, mesmo com a escassez de vacinas, certamente o Brasil já teria protegido pelo menos 70% da população adulta, reduzindo muito os riscos de mortes pelo novo coronavírus. Vale lembrar que, nas campanhas de vacinação de gripe, em apenas dois meses, a rede pública de saúde é capaz de atender mais de 80 milhões de pessoas. Certamente, não seria diferente agora se todas as condições estivessem dadas.
Portanto, que a CPI da Covid cumpra exatamente o papel para o qual foi criada, apurar as ações e omissões do governo no enfrentamento da pandemia. Claro, com respeito às regras, baseada na verdade, sem politicagem, voltada para atender os anseios da população. Se os senadores falharem nessa missão, haverá razões de sobra para os eleitores repudiarem aqueles que elegeram para representá-los na Casa do Povo.
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