TRABALHO

Na invisibilidade do vírus, a precariedade visível

O Brasil voltará, por meio das mãos da classe trabalhadora, do povo brasileiro, unidos na defesa da democracia e dos direitos mais elementares. O Brasil voltará a ser o país dos nossos sonhos e da dignidade humana

VICENTINHO
postado em 15/05/2021 07:00
 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
(crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

No mês dedicado aos trabalhadores, em 2021, gostaríamos de celebrar dados positivos, mas a pandemia do novo coronavírus promoveu um impacto forte sobre o mercado de trabalho, com ampliação sem precedentes do desemprego e queda histórica de ocupação. O vírus, somente, não seria capaz de tanto estrago, e contou com a “ajuda” da desastrosa política econômica do atual governo federal e erros graves no enfrentamento à pandemia e oferta de vacinas. Apenas nos primeiros meses de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 5 milhões de pessoas perderam seus empregos. Segundo pesquisa recente publicada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), são pouco mais de 14,272 milhões de desempregados no Brasil, o que significa 2,539 milhões a mais que no mesmo período de 2020. Da massa salarial dos/das trabalhadores/as, algo ao redor de R$ 15,7 bilhões/mês deixou de circular na economia todos os meses.

Outro fator é a destruição causada pela Lava-Jato. Um estudo recente do Dieese, elaborado a pedido da Central Única dos Trabalhadores (CUT), revela que, por causa dos impactos da condução política da Lava-Jato, R$ 172,2 bilhões deixaram de ser investidos na economia e 4,4 milhões de brasileiros ficaram sem emprego. O estudo consumiu um ano de análises, pesquisas e cruzamentos de dados oficiais envolvendo 67 setores da economia e concluiu que a construção civil e a cadeia de petróleo e gás são os setores mais afetados pela ação da dupla Sergio Moro/Deltan Dallagnol.

Em cenários de crise, quem trabalha informalmente fica ainda mais vulnerável, corre mais riscos de ficar sem fonte de renda. A retomada da economia e impactos positivos no mercado de trabalho dependem das condições sanitárias e da imunização da população. Para interferir positivamente nesse cenário, já conseguimos assinaturas mais que suficientes para instalação da Frente Parlamentar em Defesa dos Trabalhadores da Economia Informal, o que deve ocorrer brevemente, na Câmara dos Deputados.

Dados extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) do IBGE, mostram que os trabalhadores por conta própria são 24,3 milhões de pessoas no Brasil, com composição majoritariamente masculina (63%, contra 37% de mulheres). Os negros são maioria entre os trabalhadores por conta própria, 54%, 10 pontos percentuais a mais que os brancos (44%).

Essa condição, por conta própria, tende a ser a única fonte de renda da pessoa (caso de 97%) e costuma ser de longa duração: 74% exercem a mesma atividade há dois anos ou mais. 8% estão nesse trabalho entre um e dois anos e 18%, há menos de um ano. O que as estatísticas não mostram é que grande parte das pessoas que sobrevivem a partir do trabalho por conta própria são muito mais exploradas e não têm quase nenhuma assistência das políticas sociais e garantias previdenciárias.

Entre negros/as, as mulheres estão em posição de desvantagem salarial, são também elas as que estão na base desprivilegiada da pirâmide dos rendimentos. A interseccionalidade das dinâmicas de desigualdade cria desafios importantes. Não basta formular ações voltadas ao desenvolvimento econômico do segmento mais precário da força de trabalho (os conta própria informais) sem considerar a integração dessas ações com políticas de combate às desigualdades de gênero, raça e região. Brancos e negros, homens e mulheres, do Sul-Sudeste ou do Norte-Nordeste enfrentam obstáculos diferentes, associados à sua condição de raça, gênero ou à pertença a um território.

Políticas de desenvolvimento focadas no apoio à economia popular (em suas conexões com os circuitos superior e inferior da economia) serão mais efetivas caso se voltem às mulheres negras e estejam efetivamente combinadas com ações de apoio à organização coletiva para combate às discriminações racial e de gênero.

A pandemia no Brasil fez a desigualdade se tornar ainda mais evidente e letal. As pessoas mais pobres, em geral, são as que não podem escolher ficar em casa ou não e ficam ainda mais expostas ao vírus. Afinal, muitas moram longe dos locais de trabalho e são obrigadas a se deslocar por meio transporte público geralmente lotado, em longos percursos.

Mesmo diante de tanta calamidade social, econômica e sanitária, não podemos perder a esperança, vamos reconstruir o país e viver um novo tempo. O Brasil voltará, por meio das mãos da classe trabalhadora, do povo brasileiro, unidos na defesa da democracia e dos direitos mais elementares. O Brasil voltará a ser o país dos nossos sonhos e da dignidade humana.

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