Nas pesquisas médicas, é comum avaliar se, e como, os efeitos obtidos nos testes clínicos vão se repetir quando não há mais o controle dos cientistas. É o que eles chamam de resultados no mundo real. Temos visto isso em países que aplicaram vacinas contra a covid-19 em boa parte da população. E com dados animadores — mais de um imunizante tem taxa de proteção superior à exibida no fim dos ensaios com humanos, por exemplo. Vêm também de governos que levaram a pandemia a sério recados de que paga um preço alto quem, em meio a uma crise sanitária, optou por um roteiro de ficção.
É que no mundo real, já se pode andar sem máscaras em ambientes abertos e fechados. Na semana passada, autoridades de saúde dos Estados Unidos deram o passaporte do sorriso livre para aqueles que completaram o regime vacinal. Reconheço que a falta de doses não abateu quem sedia empresas que produzem algumas das fórmulas protetivas. Mas lembro que, no ano passado, sob outra direção, o mesmo país chegou a ser considerado o epicentro da pandemia.
Desse mundo real também surgem práticas que parecem jogar contra uma crise de dimensões globais. Difícil concordar com turismo de vacinas quando há outros países que sequer conseguiram imunizar os profissionais que estão na linha de frente contra a covid-19. Há um outro mundo muito maior se transformando em um cenário que só favorece o inimigo comum.
Não à toa, no novo normal de Israel, mesmo com mais de 60% da população vacinada, há uma tensão de que a cepa do coronavírus identificada, pela primeira vez, na Índia coloque a imunização em massa a perder.
As suspeitas são de que as vacinas disponíveis não sejam tão efetivas contra a B.1.617, que parece não perder tempo. Há infectados pela versão mutante entre israelenses e moradores de ao menos outros 16 países.
Por aqui, no nosso roteiro de terror, temos perdido tempo, vacinas e testes. Só pode ser do campo do inacreditável a notícia de que o ministério responsável por combater a pandemia encontrou 100 mil doses de um imunizante “perdidas” em um depósito. À beira de 400 mil mortes, ouvimos que esse tipo de problema “é normal”.
Também parece ficção a mesma pasta reconhecer que deixou ao menos 2,3 milhões de testes de diagnóstico vencerem e de que o destino de uma das principais ferramentas de monitoramento do vírus será a incineração. E o que dizer da impossibilidade de aplicar a segunda dose no prazo indicado pelos fabricantes por um erro de logística? Torço para que consigamos mudar essa história. O Brasil precisa viver um filme de época. De quando éramos referência mundial em vacinar a nossa gente.
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