Idiotas. Foi o termo usado pelo presidente Jair Bolsonaro para se referir a quem respeita a ciência e segue o distanciamento social. Declaração desrespeitosa para a maioria da população brasileira e para alguns de seus eleitores, que começam a cair na realidade e a demonstrar arrependimento. Mas a ofensa proclamada pelo chefe de Estado brasileiro é mais do que isso. Trata-se de uma admissão de desprezo pelas mortes de 439 mil brasileiros. São filhos que não terão a oportunidade da presença protetora e do amor de um pai. São esposas jogadas na viuvez. Algumas perderam não apenas o companheiro e o amor de sua vida, mas aquele que sustentava a casa e era o esteio da família. O que dizer dos pais e das mães lançados no sentido contrário desta jornada, ao serem obrigados a ver a partida prematura do filho?
O despautério foi dito pelo presidente em plena pandemia e durante a CPI da Covid. Bolsonaro produz provas contra si mesmo. Mais: trata como idiotas os senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito, a despeito de duas semanas bastante comprometedoras para o Planalto. Cabe aos “inquisidores” honrar os 439 mil brasileiros mortos pelo coronavírus e estabelecer a verdade. Sobretudo, responsabilizar os culpados. Aqueles que achincalharam a ciência; que abraçaram o negacionismo como ideologia e receitaram medicamentos ineficazes, na contramão de estudos científicos; que promoveram aglomerações; e, sobretudo, que menosprezaram a vacina como a solução mais inteligente e rápida para voltar a mover a economia.
Se ficar em casa e evitar contrair o vírus é ser “idiota”, presidente, espero que a maioria absoluta da população o seja. Os mesmos idiotas voltarão às urnas em 2022 e, diante delas, se recordarão dos parentes ceifados pela covid-19, mas, também, pelo negacionismo. Eles se lembrarão de como o líder máximo de uma nação sinalizou falta de empatia pelas 439 mil vítimas da covid (até 2022 serão 500 mil, 600 mil?) e proferiu frases polêmicas apenas para agradar a uma pequena parcela da população.
Tenho saído de casa para trabalhar quase todos os dias porque minha função exige isso. Mas me recuso a participar de aglomerações. Em quase 15 meses de pandemia, estive com meus irmãos, meus pais e minha avó por raríssimas vezes. Sempre de máscara e sem abraços ou beijos. Entendo que tal comportamento também expressa respeito, amor e cuidado pelo próximo. Não apenas por meus familiares, mas, também, por qualquer pessoa a quem eu correria o risco de transmitir o coronavírus, se estivesse infectado. Sim, presidente, nesse ponto, eu me considero um verdadeiro idiota. E muito me orgulho disso.
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