Verborragia
A declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que chamou de idiotas as pessoas que ainda praticam o isolamento social, como forma de evitar a contaminação por coronavírus, foi mais uma das suas verborragias compulsivas. Essa atroz declaração do presidente — “tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa” — foi dada em um encontro no Palácio da Alvorada com seus apoiadores. Na ocasião, Bolsonaro comentou elogiosamente as manifestações do fim de semana, organizadas por ruralistas, que provocaram aglomeração com muitos manifestantes, sem máscaras, na Esplanada dos Ministérios. De acordo com o presidente, se os trabalhadores rurais tivessem ficado em casa, o resto da população teria morrido de fome. Senhor presidente, com meus respeitos, prefiro ser idiota a colocar a família em risco, como V. Ex. a faz irresponsavelmente e constantemente. Outra verborreia governista foi dada pelo vice-líder do governo na Câmara, deputado Giovani Cherini (PL-RS), ao discursar contra o uso de máscaras para reduzir a disseminação da covid-19. O deputado Cherini declarou, em sua fala, sem provas, que o uso constante de máscaras pelo ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas, que morreu neste domingo em decorrência de um câncer, pode ter contribuído para o avanço da doença. Absurdo! E pasmem, o deputado completou em seu discurso: “A nação brasileira está sofrendo de ansiedade e sabe por quê? Por causa do uso de máscara”. Deputado conterrâneo, nos rincões gaúchos, o senhor prega aos seus eleitores a não utilização da máscara? Que Deus ilumine e proteja os seus eleitores!
» Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
Deprimente
Constrangedor. Talvez ainda seja uma palavra muito branda para qualificar o depoimento do general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, na quarta-feira. A hierarquia, marca das Forças Armadas, foi esgarçada. O general se mostrou um homem submetido aos caprichos, ao negacionismo de um capitão desvairado e mentiu acintosamente, sendo desmascarado por meio de gravações (provas audiovisuais). Criou subterfúgios mais frágeis do que uma gota de água. Que situação triste! Mas o pesadelo não passou. Terá, cedo ou tarde, de prestar contas dos seus atos à Justiça, pois, ao fim e ao cabo, se colocou como marionete de um capitão que chegou ao poder para “desconstruir”e “destruir” toda e qualquer política favorável à sociedade, sobretudo as voltadas aos segmentos mais vulneráveis. O general virou cúmplice da tragédia. O negacionismo de todos os bons valores civilizatórios, da ciência, da medicina e da lógica aproxima o país de 500 mil mortos, grande parte evitável, se a vida da população fosse importante para o capitão. Mas o capitão é comandante do ódio, do desprezo pelas pessoas. Entende, em oposição ao pensamento universal, que “nenhuma vida importa” e faz questão de xingar quem se protege, adotando medidas protetivas, até em respeito à vida do próximo. Para ele, tem valor aqueles que compactuam com a sua narrativa letal. Ao assistir à primeira parte do depoimento de Pazuello, imaginei como os comandantes do Exército se sentiram diante das cenas de leviandade e escárnio de um de seus generais, exibidas para o país e para o mundo, que enfrentam a pior praga dos últimos 100 anos. Constrangedor, vergonhoso, deprimente.
» Leonora Lima,
Núcleo Bandeirante
Pazuello
O general Pazuello passou mal perante a CPI ao comparecer com o espírito aberto e dizer que responderia a todos os questionamentos. Civilizado e com uma formação cultural forjada nas fileiras do Exército Brasileiro, desde criança, pois a iniciou no Colégio Militar com apenas 10 anos, pensou que teria um tratamento a altura do que se deve dar a uma testemunha que exerceu cargo de segundo escalão da República e, principalmente, porque seria interpelado ou interrogado por senadores, quase todos ex-governadores. Mas o que se viu foi uma saraivada de acusações, pressões e confrontações impiedosas, com discursos pré-fabricados e sem perguntas. Foi uma seção enfadonha em que não se queria ouvir o depoente, mas fazer com que ele acusasse o presidente da República. Viu-se, ainda, que quando o interpelado tentava justificar as respostas, caiam em cima dele, interrompendo-o e exigindo que desse resposta “objetiva”, quando, ao contrário, as perguntas que faziam eram extensas e confusas. Teve um senador, ex-governador do Amazonas, que, de uma só tacada, fez mais de 10 perguntas, quando o normal e legal seria fazer uma pergunta por vez. Havia irritação geral, mas uma lição ficou: à apuração de um caso, tudo deve ser espontâneo e natural. Na Idade Média, os interrogatórios eram feitos sob suplícios; às vezes, um inocente fraco confessava o crime, enquanto um culpado forte que o aguentasse era absolvido. Outra lição foi deixada pela decisão do ministro Lewandowski: confusa, porque, ao mesmo tempo que determinava que o depoente podia ficar calado, naquilo que julgasse ser confissão, o obrigava a falar quando se referisse a terceiro. Ora, como separar o joio do trigo, quando caroços teimosos e estranhos são infiltrados no todo? Para a decisão que não é clara ou causa dúvida, o remédio é o recurso dos embargos de declaração! O que não houve. Epílogo: pior do que o suplício físico é o psicológico.
» José Lineu de Freitas,
Asa Sul
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