Caminhamos para uma triste estatística: meio milhão de mortos. Não está na hora de deixar de se indignar. Por todas as famílias enlutadas, pelo Brasil que queremos, pela esperança que ainda temos, não deixe o cansaço te levar para a omissão. Nosso instinto de sobrevivência nos conduz diariamente a querer esquecer que vivemos uma pandemia sem data para acabar. Mas ignorá-la é fortalecer o mal.
Sim, vem uma terceira onda por aí, já anunciam aqui e ali os entendidos no assunto. Já vimos esse filme, e o enredo é conhecido, triste e poderoso para nos jogar de volta à realidade de forma abrupta. A verdade, ainda que dura, é libertadora. O primeiro passo é reconhecê-la. O segundo é manter o distanciamento, o uso de máscaras e as demais medidas protetivas. O terceiro é não esquecer por que chegamos a esse triste patamar.
Ficou banal o assunto? Está cansado de ouvir sobre essa tragédia diária, que conta mortos em série? Exausto de ler as notícias, de acompanhar os depoimentos da CPI, de saber sobre os absurdos dos governantes, de ouvir sobre fura de fila de vacina e de se indignar sobre as atitudes dos brasileiros que empreendem golpes em série contra cidadãos de bem? Eu posso entender que tudo isso alimenta nosso desespero. Mas não está na hora de ignorar a verdade. Nunca está.
Ainda que, em muitos momentos, a vontade seja fugir, trace uma rota respeitosa para você mesmo. Alimente o corpo e a alma com os melhores hábitos, tenha um arsenal próprio para lidar com tantas dificuldades. Mas não se desligue do que é importante. Tenha em mente que não se constrói uma casa segura sem um país igualmente seguro. Não se trilha um caminho consistente para a própria felicidade desprezando a tristeza e a necessidade do outro. Não somos um; somos todos.
Cada um de nós tem um papel relevante na construção de um futuro melhor e de um presente mais promissor a curto prazo. A nossa sobrevivência depende de respeito ao meio ambiente. A nossa alegria pressupõe relações pessoais calcadas na não violência, na convivência harmoniosa com os demais, no fim do preconceito. O nosso país depende, também, das nossas decisões diárias.
A gente levanta todos os dias o dedo em direção aos erros dos outros. Damos conta dos nossos também? O pior erro que podemos cometer agora é se omitir e ignorar a gravidade do que estamos vivendo. O momento é de escolha. Ou entendemos que somos cidadãos e vivemos no coletivo, ou nos transformamos em criaturas egoístas, fechadas, duras e desumanas. O mundo gira, mas num diâmetro infinitamente maior do que o nosso umbigo.
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