Não sei você, mas eu ando exausta. Se serve de consolo, essa sensação não é exclusividade minha ou sua. Até a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o cansaço generalizado decorrente da pandemia e apelidou o sintoma de “fadiga pandêmica”. Como mostrou reportagem publicada ontem na Revista do Correio, uma pesquisa da organização internacional constatou que o fenômeno afeta 60% da população. É consequência do esgotamento gerado pela hipervigilância causada pelo medo de um vírus mortal que circula, de forma invisível, entre nós.
Se mudanças já costumam ser tensas mesmo quando programadas, imagina quando a vida vira de ponta-cabeça da noite para o dia e não temos controle sobre isso? Em mais de um ano de pandemia, fomos obrigados a nos adaptar a esse “novo normal” que, cá entre nós, não tem nada de novo ou de normal. As consequências são ansiedade, estresse, esgotamento mental... e cansaço.
O excesso de uso de tecnologia ocasionado por aulas virtuais, reuniões on-line e home office também ganhou um apelido: “fadiga de Zoom”. Hoje, até o lazer e o “relaxamento”, muitas vezes, envolvem telas. Estamos conectados praticamente 24 horas por dia. Chega um momento em que o cérebro apresenta a conta: exaustão física e emocional.
Uma pesquisa feita pela Universidade de Stanford, nos Estado Unidos, concluiu que reuniões por videoconferência são mais cansativas que as presenciais. Isso acontece porque os participantes dos encontros digitais olham uns para os outros o tempo todo enquanto, na versão presencial, o foco vai mudando, sempre que muda o falante. Para piorar, na telinha do computador, você se olha o tempo todo, o que provoca uma autoavaliação constante. Mais uma vez, estamos hipervigilantes.
Se a sobrecarga de tecnologia tem feito mal para nós, imagina para os jovens e adolescentes? Estudo realizado pela instituição filantrópica sem fins lucrativos Ensino Social Profissionalizante, com pessoas de 15 a 24 anos, mostrou que, em abril de 2020, 56,8% delas diziam estar dormindo menos que o normal. Essa taxa subiu para 65,8%, em novembro. Nesse mesmo intervalo, o percentual dos que disseram estar mais cansados cresceu de 73% para 77,5%.
A sensação que fica é de que não há um momento de relaxamento pleno. Ainda assim, nem por isso podemos deixar de tentar. Algumas armas precisam ser usadas em favor da nossa saúde mental. Mexer o corpo, dedicar-se a um hobby, ouvir música, ler um livro, assistir a uma série boba, meditar e, sobretudo, parar para respirar são algumas boas opções.
Sei que não é fácil, diante da tragédia diária que vivemos, desconectar-se de tudo — não há um botãozinho de liga/desliga. Mas deixo aqui uma reflexão: por que, em vez de ficar reclamando de que está cansado, você não busca uma forma de acabar com essa fadiga sem fim, nem que seja fazendo nada? Abrace o ócio, de vez em quando, e não se culpe por isso.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.