Pernambuco. Dois homens recebem projéteis de borracha contra o rosto, disparados pela polícia durante manifestação do último sábado. Ambos perdem parcialmente a visão. Uma das vítimas apenas passava pelo local do ato. No mesmo protesto, uma vereadora pernambucana foi atingida com spray de pimenta nos olhos e desabou no chão. Goiás. Na cidade de Trindade, policiais militares abordam professor e dirigente do Partido dos Trabalhadores, cujo carro estampava um adesivo com as palavras “Fora, Bolsonaro Genocida”. Os agentes exigem que o dono remova o adesivo do automóvel. Depois de recusa, Arquidones Brites é levado à sede da Polícia Federal, em Goiânia, para ser autuado pela Lei de Segurança Nacional. O delegado de plantão se recusa a fazê-lo, e ele é solto. O policial militar acaba punido, afastado do trabalho.
Depois de dezenas de milhares de brasileiros saírem às ruas contra o negacionismo, a ineficiência e a insensatez de um governo que menospreza a pandemia da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro tripudiou sobre o movimento e alegou que poucas pessoas compareceram porque faltou maconha. Como se esquerdista fosse sinônimo de drogado. Desprezo absoluto pela pluralidade de pensamentos e pela democracia, da qual ele deveria ser o principal guardião. Assim como as forças policiais execraram o livre direito à associação e à manifestação. Os atos em Pernambuco e em Goiás foram pacíficos, ainda que desagradem ao chefe de Estado que tantas vezes age como imperador ou déspota. Na própria CPI da covid-19, tantos são os parlamentares que se dirigiram à política do Planalto como “genocida”. A polícia vai dar voz de prisão a quem tenta apurar a verdade?
Na semana passada, no auge da polêmica presença do general Eduardo Pazuello em um passeio de motos liderado por Bolsonaro, em tom enigmático, o próprio presidente chamou o Exército de seu e assegurou que, a partir de agora, vai “agir”. Um governo que corteja com a ruptura institucional parece não ter o mínimo de apreço pela democracia. Depois da morte de 470 mil brasileiros, vitimados pela covid-19, mas também pelo negacionismo, o governo teve a “brilhante” ideia de abraçar a Copa América.
Capitalizar politicamente sobre um torneio de futebol para vender a imagem de normalidade nos remete aos tempos de Roma Antiga. Panem et circenses. Do alto da tribuna, o imperador aplaude os leões devorando o gladiador. Do alto da vaidade do poder, o presidente aplaude o avanço da pandemia e ameaça a democracia. E continua insistindo na cloroquina como tábua de salvação. Aquele que deveria comandar a nação prefere ser aprendiz de curandeiro. Pobre Brasil.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.