OPINIÃO

Artigo: O sonho do Brasília Vida Segura (2017-2030)

Correio Braziliense
postado em 08/06/2021 06:00

Por VALTER CASIMIRO — Secretário de Mobilidade do Distrito Federal

LEANDRO PIQUET CARNEIRO — Coordenador do Conselho do Brasília Vida Segura

MICHELLE ANDRADE — Conselheira do Brasília Vida Segura, Faculdade de Engenharia da Universidade de Brasília

RICARDO RIBAS — Consultor líder do Pilar de Segurança Viária do Brasília Vida Segura, Falconi Consultoria

Brasília foi inventada como a capital do Brasil, mas não havia uma cidade. Sessenta anos depois, Brasília transformou-se no centro urbano vibrante e diverso que conhecemos hoje. A sua construção representou o mais importante e bem-sucedido esforço de desenvolvimento regional brasileiro. A cidade aumentou seis vezes de tamanho entre 1960 e 2020 e tem hoje a maior renda per-capita entre as unidades da Federação. Porém o crescimento acelerado da nova capital trouxe problemas que não existiam, tais como a necessidade de segurança pública, saúde e educação que precisavam ser oferecidos a milhões de novos moradores.

Tanto a estrutura projetada de Brasília como seu processo de expansão urbana, geraram a concentração de empregos na zona central e a formação de distritos residenciais populosos no seu entorno. Essa configuração sobrecarrega a infraestrutura de transporte e traz grandes desafios para a mobilidade urbana. Esses fatores impactaram diretamente o tempo gasto nos deslocamentos e acidentalidade viária. A taxa de mortalidade no trânsito por 100 mil habitantes, passou de aproximadamente 20 mortes/100mil hab. no início da década de 1980, para 43 em 1995. A cidade não apenas piorou com relação ao que era, como também passou a apresentar taxas, em média, 67% maiores do que as taxas do município de São Paulo entre 1996 e 2016.

Em 2017, já em meio ao movimento mundial denominado a Primeira Década de Ação pela Segurança no Trânsito, nasceu o “Brasília Vida Segura” com o sonho de mudar essa realidade em Brasília. Desde então, a parceria público-privada, que se estabeleceu sob a liderança do Governo do Distrito Federal, desenvolveu um ambicioso programa de políticas públicas experimentais.

A associação entre beber e dirigir é uma das principais causas dos acidentes de trânsito no Brasil e no mundo. De acordo com um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, aproximadamente 1,25 milhão de pessoas morrem em acidentes rodoviários em todo o mundo e outros 50 milhões ficam feridos. Se nada for feito, as mortes por acidentes de trânsito podem passar de 10% do total de vidas perdidas no mundo para 30% até 2030. Para enfrentar esse desafio e mobilizar governos, sociedade civil e empresas, a ONU lançou em 2011 a Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020). Em 2020 o compromisso global com o tema foi reafirmado com a Declaração de Estocolmo na Terceira Conferência Global sobre Segurança no Trânsito, a qual propõe atingir uma redução de 50% nas mortes até 2030 e promover a Visão Zero até 2050.

Em Brasília, o governo e o setor privado se uniram e produziram resultados que estão mudando a forma como encaramos esse problema no país. Aprendemos que é possível salvar vidas no curto prazo se agirmos na direção certa, com os métodos adequados. Nos quatro anos anteriores ao início do Brasília Vida Segura, morriam a cada ano em média 384 pessoas em acidentes de trânsito no Distrito Federal. Desde 2017, a média anual de mortes diminuiu para 249. Em 2020, foi atingida — e até superada — a meta da década estabelecida pela Organização Mundial da Saúde de reduzir em 50% as mortes no trânsito.

Para promover essas mudanças, desenvolvemos um ambicioso programa colaborativo de gestão pública, baseado na ideia de que é necessário utilizar dados e informações para direcionar as medidas de prevenção e as intervenções de engenharia no trânsito. Novos modelos de fiscalização, controle de velocidade, sinalização e orientação para condutores foram adotados ao longo dos cinco anos do projeto. A chave do sucesso do Brasília Vida Segura é a cooperação entre os órgãos e o uso de métodos de gestão adequados para alocar os recursos escassos onde são mais necessários. As ações desenvolvidas pela Secretaria de Mobilidade, Detran, DER-DF, Corpo de Bombeiro e as Polícias do Distrito Federal salvaram mais de 900 vidas, em um curto espaço de tempo, e economizaram mais de R$ 600 milhões em gastos com internações hospitalares e anos de vida que seriam desperdiçados prematuramente.

Nesses anos excepcionais, marcados pela grave crise da saúde pública representada pela pandemia da covid-19, enfrentamos transições que não apresentaram um caráter regular e conhecido, mas que foram muitas vezes até disruptivas. Como programa, o Brasília Vida Segura e suas intervenções se mostraram capazes de assimilar o caráter atípico e desafiador do tempo que estamos vivendo. Os resultados alcançados precisam ser celebrados, mas representam apenas a primeira etapa de um grande esforço global. Até 2030 deveremos reduzir as mortes e lesões no trânsito em, pelo menos, 50%. Nosso esforço já começou, o governo do DF reconheceu e divulgou oficialmente a meta de pouparmos da morte violenta no trânsito mais de mil vidas até 2030. Os brasilienses podem cobrar o engajamento do governo para atingir esses resultados e certamente se mobilizarão para tornar esse sonho realidade.

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