Conhecerás um pretendente a ditador do momento ao seguinte sinal: todos eles se utilizam de eventos populares, não para o regozijo de sua gente, como quer parecer, mas tão somente para alavancar sua imagem junto ao povo, visando angariar apoio às suas pretensões políticas de cunho populista.
Tal é a característica comum a todos eles, sem exceção. O que muda é apenas o tipo de evento popular a ser explorado como marketing político. Nesse caso, pouco importa o espetáculo. O importante é que reúna o maior número de adeptos. Pode ser ligado ao folclore, às tradições ou ao esporte.
No país do futebol, a utilização desse esporte como muleta oportunista de políticos é um fato histórico antigo e manjado e pode ser conferido praticamente desde que surgiram os clubes devotados ao ludopédio. Só existe um porém nessa estratégia marota: para que a fórmula funcione, é necessário, antes de tudo, que o time escolhido tenha uma grande e apaixonada torcida, capaz de empolgar e incendiar multidões, tornando-as presas fáceis. Já quando o marketing político mira a seleção do país, onde estão representantes de todos os times e jogadores mais destacados, transformando-os em garotos-propaganda do governo, essa mistura entre oportunismo populista de cunho nacionalista com a paixão dos torcedores rende resultados à medida que esse escrete devolve essa aposta em forma de gols e de vitórias incontestes.
Em situações assim, o chefe de governo comparece aos estádios e, da tribuna de honra, faz questão de ser visto e aplaudido. Ocorre que nesse mesmo país do futebol não é raro os espectadores no local vaiarem até o minuto de silêncio, e com políticos não tem sido diferente. Numa situação em que o Estado Democrático de Direito usa o seu tempo para cuidar, com denodo, de questões da mais alta relevância para a nação, não resta espaço e vontade para que o governo interfira em problemas menores relativos ao futebol, já que essa é uma atividade mantida por organizações e empresas privadas e com interesses próprios e diversos.
Também no Brasil e, por diversas vezes, essa intromissão indevida do governo no mundo do futebol quase sempre tem rendido, ao lado de alguns, minutos de popularidade ao chefe do Executivo, elevados custos para os pagadores de impostos que acabam arcando com a armação desse circo. Caso exemplar pode ser conferido no governo petista de Dilma Rousseff, com a construção de enormes e caríssimas arenas de futebol, destinadas à realização da Copa do Mundo e que hoje, em sua grande maioria, foram transformadas em verdadeiros elefantes brancos, sem utilidade alguma, depois de terem sido erguidos à base de muita corrupção e sobrepreço.
Com Dilma e seu governo ficaram, além desses fantasmas de concreto, as seguidas humilhações impostas pelos diretores da Fifa ao governo, os escândalos nessas construções e os posteriores que redundaram no banimento perpétuo desses dirigentes do futebol, as prisões dos chefões da CBF, as vaias retumbantes no estádio durante a abertura dos jogos e a derrota fragorosa da Seleção para a Alemanha por nada menos que 7 x 1. Não foi pouco.
Toda essa amarga experiência deveria ser utilizada como um aprendizado para que o governo jamais voltasse a misturar os assuntos de Estado com os problemas de estádios. Mas não foi o que aconteceu. O atual governo, no seu afã de preparar o caminho para 2022, resolveu intrometer-se na realização da Copa América, em plena pandemia, quando o país experimenta os maiores índices de mortalidade e quando os hospitais estão superlotados e a economia patina na lama. Não parece ser fanático por futebol, mas por jogadas políticas. Esse parece ser o caso.
Os países onde seriam realizados o torneio cuidaram logo de empurrar esse abacaxi para o Brasil. O que se viu, pelo menos até agora, foi o ensaio de revolta dos jogadores e do técnico, possivelmente calados pelo reforço em dinheiro dos prêmios, bem como os escândalos de assédio sexual do presidente da CBF e seu posterior afastamento da instituição.
Também tem aumentado o repúdio de brasileiros, médicos e enfermeiros e de todos os que perderam amigos e familiares nessa pandemia. Falta agora, para completar esse quadro patético, a vaia nos estádios e a derrota da Seleção. Mesmo em caso de vitória, essa é uma situação que em nada vai beneficiar os brasileiros, preocupados em sobreviver à pandemia e à crise econômica e social.
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