Por certo, os muitos problemas urbanos que o Distrito Federal enfrenta hoje e cujas causas muito se comentou e criticou neste espaço, não estão, na sua maioria, concentrados apenas no Plano Piloto, mas é nessa área central da Grande Brasília que estão localizados hoje as principais fontes de renda para centenas de milhares de brasilienses, quer em empregos formais, com carteira de trabalho assinada, quer em atividades de livre iniciativa ou em outras ocupações informais espalhadas por toda a cidade.
Apenas por essa característica econômica, que faz com que as populações do Entorno se desloquem diariamente para o centro da capital, já seria um bom motivo para o Governo do Distrito Federal (GDF) ter um olhar mais atencioso para essa área, afastando a possibilidade, observada em muitas capitais do país, desse centro vir a experimentar uma perigosa fase de decadência prematura.
O crescimento desordenado do Entorno, feito sob a batuta de inegáveis interesses políticos e eleitorais, demanda, mais do que nunca, que o Plano Piloto receba atenção redobrada dos órgãos públicos, a fim de que essa área possa exercer, com eficácia, seu novo objetivo, que é a manutenção dos empregos e da renda das populações circunvizinhas.
Já se sabe hoje que os antigos objetivos traçados pelos idealizadores da nova capital, nos anos iniciais da década de 1960, quais fossem servir como centro administrativo do país, já há muito vem deixando de ser o principal leit motiv que levou a transferência da capital para o Planalto Central. Hoje é possível afirmar que Brasília serve muito mais ao Entorno, inclusive a estados vizinhos, do que ao país propriamente dito.
A intensificação das comunicações instantâneas via internet, ao criar o chamado “não lugar”, fez com que o espaço geográfico deixasse de ser um fator preponderante para a realização de serviços de toda a ordem. Hoje, não há mais a necessidade, por exemplo, de o chefe do Executivo, ir a um determinado ponto do país para fazer cumprir um projeto. Tudo pode ser realizado a distância, como prova o teletrabalho.
Apenas por esse aspecto é possível afirmar que o centro das decisões nacionais perdeu muito de seus objetivos originais, restando à capital figurar mais como um símbolo da unidade nacional, da realização e força de um povo, em tempos passados. É assim em Brasília e é assim em todo o mundo. Com isso, fica mais do que evidente que Brasília precisa de uma espécie de ressignificação de seus desígnios, estratégica e administrativa.
Ao lado dessa inegável alteração de rumos, Brasília necessita voltar-se para si e para seu entorno imediato, a fim de manter esse processo irrefreável de conurbação iniciada em meados dos anos 1980 com a chamada emancipação política da capital.
É esse incremento que, do ponto de vista prático, pode ser estabelecido, por exemplo, com a modernização das vias W3 Norte e Sul, criando um eixo de excelência comercial, ou com a retomada dos polos de cinema, música, de moda, de tecnologia e outros. Ou por meio da construção de escolas técnicas variadas para capacitar a mão de obra jovem, preparando-a para os desafios das novas tecnologias e empregos que estão surgindo. Tudo isso, com um adequado e moderno meio de transporte ferroviário ligando esses pontos vizinhos ao centro da cidade. De fato, Brasília é hoje a capital do Entorno e com missão de tal importância, deve preparar-se para os novos tempos que se anunciam.
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