No momento em que a economia brasileira dá sinais mais evidentes de que começa a reagir à retração decorrente da crise sanitária sem precedentes, desencadeada pela pandemia de covid-19, um segmento fundamental para dar suporte à retomada do crescimento preocupa: o setor de geração de energia.
Recentemente, o Operador Nacional do Sistema (ONS) emitiu alerta de emergência hídrica para as hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste, responsáveis pela maior parte da produção nacional, devido à estiagem mais severa nas regiões desde 1930. A expectativa é de que os reservatórios de boa parte das usinas, já bastante esvaziados, com capacidade de armazenamento inferior a um terço na primeira semana de junho, cheguem a níveis críticos até novembro.
Apesar do alerta, logo em seguida, o ONS divulgou nota técnica garantindo não haver risco ao abastecimento este ano. Para evitar a possibilidade de racionamento ou de apagões, porém, uma série de medidas precisam ser adotadas, como o acionamento das termelétricas — cuja geração é mais cara — e a conscientização da população para economizar ao máximo eletricidade e também água.
O encarecimento da energia eleva os custos da produção industrial e dos serviços, e tem significativo impacto na inflação, sacrificando o consumidor. Foi exatamente a alta da energia elétrica no grupo de despesas das famílias com habitação uma das vilãs do aumento da inflação oficial no mês passado, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, de 0,83%.
É a maior elevação do IPCA em um mês de maio desde 1996. O reajuste das contas de luz atingiu 5,37%, em média, no mês passado, e especialistas avaliam que, com a situação delicada das hidrelétricas, novos aumentos virão por aí nos próximos meses.
Em meio a tudo isso, merecem atenção especial as propaladas privatizações no setor elétrico — a viabilização da venda da Eletrobras aguarda aval de MP que tramita sob polêmicas no Congresso. É uma questão que precisa, de fato, ser tratada com cuidado, pois envolve políticas públicas e aspectos sociais.
Afinal, trata-se de segmento estratégico, que não deve ser repassado à iniciativa privada, às pressas, de forma açodada, sem uma ampla discussão, de modo a garantir que anseios institucionais ou de empresas compradoras não se sobreponham aos interesses e necessidades da população.
Enquanto isso, cabe a cada um de nós apagar luzes acesas desnecessariamente, desligar da tomada aparelhos que não estejam em uso, apressar os banhos de chuveiro e fechar bem as torneiras, até que São Pedro socorra, de preferência com chuvas abundantes, os lagos das hidrelétricas.
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