Era uma vez um mundo de faz de contas. A paz reinava absoluta entre os homens. Na terra entre o Leste e o Oeste, dois povos coabitavam como irmãos. Não havia ódio nem rancor. Não havia exércitos nem espaço para a morte ou para a dor. Dois Estados soberanos, independentes, prósperos. O som que se ouvia à noite era o das oliveiras milenares balançando ao vento. Havia respeito pelo próximo. Os erros do passado serviram de lição para os acertos do presente e do futuro. Não existiam postos militares nem torres de vigilância nem grandes muros. O cheiro da liberdade perfumava todo o ambiente. Os quintais das casas estavam unidos entre si. Vizinhos idolatravam Alá e Jeová, um único Deus, enquanto se sentavam à mesma mesa para saborear tâmaras e damascos. Em nome deste mesmo Deus, não cabia fanatismo ou radicalismo. Apenas uma devoção sóbria e coerente com a sede de amor e de paz.
Um dia, do outro lado do oceano, um mal se abateu sobre uma nação. Desde o primeiro dia da epidemia, o líder daquele povo visitou hospitais, se solidarizou com os familiares dos mortos, não poupou esforços para que toda a população fosse imunizada no menor intervalo de tempo possível. Esse mesmo líder, sensato e comedido nas palavras, dono de uma retórica pacificadora, criou um gabinete de crise, quase que imediatamente, e coordenou todos os esforços da saúde pública para colocar fim à doença. Enquanto a proteção demorou poucas semanas para atingir todos os cidadãos, esse governante aconselhou, recomendou ao seu povo o uso de máscaras e o respeito ao distanciamento social. Suplicou para que nenhum de seus comandados utilizasse medicamentos ineficazes. Esse mesmo líder apostou, sobretudo, na ciência.
Era uma vez um mundo de igualdades. Todas as nações do planeta eram modelos de bem-estar social e de respeito ao Estado de direito. O poder não apodrecia as pessoas. A ganância e a cobiça não faziam sentido, no ambiente em que a prosperidade não era exceção, mas regra. Um mundo onde racismo, chauvinismo, xenofobia e misoginia eram apenas verbetes de dicionário de tempos idos. Onde as mulheres ocupavam todos os espaços da sociedade. As pessoas respeitavam toda e qualquer forma de amor. Afinal, amor é amor. Um mundo onde não havia lugar para correntes ideológicas ou políticas capazes de causar ódio. Era uma vez um mundo onde fome era coisa de ficção. A terra, mãe generosa, alimentava todos os filhos com fartura. Todos tinham um teto, uma mesa repleta de alimentos e um sorriso no rosto.
Em tempos tão difíceis, somente nos resta sonhar. Esperar que a paz cubra com o mesmo agasalho povos inimigos. Aguardar que um país gigante pela própria natureza tenha um líder que merece e que respeite o seu povo. Acreditar que um mundo ideal não seja pura é simples utopia. Depende de cada um de nós assentar o terreno para a construção de novo futuro para nossos filhos, talvez netos ou bisnetos. Podemos, e devemos, acreditar em uma vida melhor, em dias de serenidade e de calma. Eu quero sonhar. E você?
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