Os governadores João Doria, de São Paulo, Flávio Dino, do Maranhão, e o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, iniciaram uma saudável disputa para ver quem imuniza primeiro a população contra a covid-19. Doria anunciou que até 15 de setembro todos os paulistas acima de 18 anos estarão vacinados no estado. Dino apelou para a tradição das festas juninas e promoveu, no último fim de semana, o Arraial da Vacinação, com direito a bumba-meu-boi, forró, mingau de milho e até prêmio em dinheiro para atrair os maranhense à imunização, abrangendo as cidades de São João de Ribamar, Paço do Lumiar, Raposa e São Luís. A competição se estendeu a outros estados e municípios país afora.
Paes reconheceu o governador de São Paulo como “pai da vacina” no país, mas adotou a “filha” de Doria e está na dianteira da corrida pela vida, com mais de 14% de cariocas vacinados com duas doses. São Paulo segue na segunda posição, e o Maranhão ainda é o lanterninha entre os concorrentes. O temor de todos é a possibilidade de uma terceira onda da epidemia, uma vez que, até agora, não houve um arrefecimento expressivo da crise.
A oscilação no ritmo da vacinação se deve à falta de doses, provocada pela irregularidade na chegada de insumos ao país, à descoberta de novas variantes e à contrapropaganda às orientações de especialistas, que se transformou num caldo tão letal quanto o vírus. Hoje, o país está muito próximo de meio milhão de óbitos (491 mil, nesta quarta-feira) por covid-19 e beira os 18 milhões de infectados. Em contrapartida, menos de 12% da população recebeu as duas doses de vacinas necessárias à imunização dos indivíduos.
Pressionado pelo avanço da CPI da Pandemia, o governo apressa os acordos com diferentes laboratórios, a fim de ampliar a oferta de imunizantes contra o vírus — providência que poderia ter sido tomada em 2020, mas foi postergada pelo negacionismo ainda hoje difundido pela narrativa oficial, com o presidente Bolsonaro insurgindo-se contra medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos para tentar conter a disseminação do coronavírus, como lockdowns, toques de recolher e obrigatoriedade de uso de máscaras e distanciamento social.
Embora os esforços sejam positivos, epidemiologistas alertam para a necessidade de os estados e municípios concluírem a segunda etapa da vacinação, principalmente entre a parcela de risco da população, como os idosos e entre os que têm comorbidades. Todas as iniciativas são bem-vindas. A autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a estados e municípios para a compra de vacina é um novo passo para ampliar a imunização.
O momento exige que mais torneios dessa natureza entre os estados e municípios sejam incentivados, levando em conta a orientação da ciência, para que a vacinação alcance um ritmo mais acelerado e chegue o quanto antes a toda a população brasileira. Não há outra forma de o país levantar o troféu ou a medalha de ouro na competição se não vencer a luta contra o letal coronavírus e seus temidos aliados negacionistas.
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