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Por Otávio Santana do Rêgo Barros — General de Divisão R1
“Não é inteligente pelear
uma guerra sob o pretexto:
“de outra forma pereceremos.
Retomo, como prometido, o tema novo totalitarismo, abordado em um artigo aqui no CB (neste link). Na ocasião, foram destacados aspectos relevantes, a meu juízo, da obra Origens do Totalitarismo, da escritora Hannah Arendt, relacionando-os com a situação atual vivenciada pelo mundo moderno.
Relembremos alguns tópicos: os movimentos totalitários abusam das liberdades do sistema democrático; manipulam as massas indiferentes; começam como ajuntamentos de indivíduos em irrelevantes partidos; e se aglutinam em torno de uma figura carismática, passando a qualificá-la como gênio.
Vamos adiante. Hannah assinala a atração que esses movimentos exerciam sobre as elites. Os barões alemães do aço se deleitavam ao convidar o líder nazista para os saraus promovidos por seus principais representantes. Foi essa mesma elite e sua aversão à historiografia oficial que permitiu a transformação de falsidades monstruosas em verdades incontestes de interesses ao movimento.
Sobre os aspectos pessoais dessas lideranças totalitárias, a escritora observa que eram pessoas dissociadas do sistema vigente — quase párias —, fracassadas na vida profissional e social, além de desajustadas na vida privada.
Elas capturaram a ideia de que assumir atitudes extremadas e grotescas, “na meia-luz hipócrita dos padrões morais”, era positivo para sua imagem. Perceberam a frustração das massas à imposição de um equilíbrio comportamental esperado pela sociedade instituída, embora nada obtivessem em troca.
A obra clarifica que as características apontadas como demérito nesses líderes, pelo “status quo” dominante, tornaram-se o ponto de aglutinação e de reverência pela massa: é um dos nossos! Chocar a sociedade com uma caricatura irônica do contra era uma eficaz estratégia de atração da opinião das pessoas.
Como no passado, o fanatismo do novo totalitarismo não objetiva mudar as condições sociais ou aperfeiçoar as políticas. Deseja destruir as crenças, os valores e as instituições que identificam como empecilho à conquista do poder. Logo, é preciso ficarmos atentos ao que ocorre hoje em nosso ambiente.
“A propaganda totalitária insulta o bom senso somente quando este bom senso perde a sua validade”. Não nos curvemos, pois, às mentiras utilitárias. O sucesso ou fracasso em circunstâncias de cerceamento da liberdade é, em grande parte, uma questão de opinião pública desorganizada, enganada e até aterrorizada. Defendamos o nosso bom senso como elixir da saúde mental e social.
A articulista aponta que esses regimes só podem ir longe na construção de seu mundo fictício com a conivência do mundo não totalitário. Pois esse, igualmente, só acredita naquilo que o conforta e foge da realidade que o incomoda. A sociedade tem dificuldades de compreender tema tão complexo e suas consequências, caso não sejam claramente apontados o ator e a ação malévola impetrada.
Talvez caminhemos para imergir em um processo semelhante aos períodos anteriores à tomada do poder pelos movimentos comunista, fascista e nazista descritos em densa profundidade por Hannah Arendt, agora sob nova roupagem.
Qual será o antídoto disponível pela sociedade e por suas instituições para imunizar-se contra esse perigoso vírus? Atenção aos detalhes, até os irrelevantes; bom senso contra o inacreditável; não aceitar a normalização da hipocrisia; e coragem física e moral para enfrentar os desvarios dessas correntes autoritárias.
Graham Allison, em seu livro A caminho da guerra, relata que, diante da insistência de Guilherme II, kaiser alemão, em desafiar o poder da Inglaterra no início do século 20, o rei Eduardo VII disse: “Willy (Guilherme) é um valentão, e muitos valentões, quando encarados, mostram-se uns covardes”.
A tese a defender será a de rejeitar essas influências daninhas do contra. Contra isso, contra aquilo, contra aquele. E enfrentar esses valentões!
Paz e bem!
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