Desde 1960

Visto, lido e ouvido — Pobreza e fome

Circe Cunha (interina)
postado em 23/06/2021 06:00

Ao longo de toda a história humana, a pobreza sempre pareceu uma espécie de condição ou norma natural da maioria e tem permanecido assim desde a formação das primeiras civilizações. De forma mais superficial, é possível verificar que em lugares onde não existam segurança jurídica adequadas, onde não é permitido o empreendedorismo e a propriedade privada, bem como a acumulação de capital e investimento, a pobreza parece ser a regra geral.

Dizer simplesmente que toda riqueza ou fortuna é montada num roubo não esclarece a questão. Assim como culpar a concentração de renda pela miséria, também não. Um fato, porém, é inconteste: o capitalismo, ao permitir a liberdade humana para a competitividade e a inventividade, não deu às diversas camadas sociais condições idênticas de partida. Com isso, aqueles que possuem renda começam a se preparar para essa corrida para longe da pobreza em melhores escolas, com melhor atendimento de saúde e melhores condições de alimentação. A desigualdade se mostra logo no início da partida, e isso já faz a grande diferença.

O aumento exponencial da população mundial, assim como os fatores hodiernos que provocaram as mudanças climáticas bruscas, com o aquecimento global, só fizeram elevar o problema da pobreza a uma condição absolutamente preocupante, levando a humanidade à sua mais complexa e urgente encruzilhada desde o aparecimento dos homens neste planeta.

Não há desenvolvimento possível e eticamente aceitável diante de um passivo como esse. Pobres existem em todas as partes do mundo, inclusive nos países desenvolvidos. E essa realidade tem experimentado um crescimento preocupante. As grandes ondas de emigração que têm se verificado dos países pobres para os ricos só tem feito aumentar esse problema, acrescentando-lhe uma forte dose de outros elementos também preocupantes.

De acordo com estatísticas produzidas pelo Banco Mundial, pobres são aqueles indivíduos que vivem com até US$ 1,9 por dia. Mas, ainda assim, é possível classificar os níveis de pobreza naquelas pessoas que vivem com uma renda um pouco superior. O século 21 tem pela frente o desafio de encontrar soluções para esse problema que aumenta dia a dia, agora agravado com a pandemia.

Cientistas sociais correm contra o tempo em busca de fórmulas e modelos que permitam minorar essa situação antes que esse dilema atinja o patamar de questões insolúveis. O Prêmio Nobel de Economia foi dado a três pesquisadores que propuseram estudos que abordam esse problema sob uma nova ótica, o que pode possibilitar, também, novas soluções. Banerjee, Duflo e Kremer apresentaram estudos que tratam do fenômeno da pobreza como um problema multidimensional, que ultrapassa a questão simples da falta de recursos e outros fatores. Para esses estudiosos, como já havia sido abordado anteriormente em 1998 por outro Prêmio Nobel Amartya Sen, a pobreza é também a “ privação de capacidades”.

Com isso, ele quis dizer acesso restrito à educação, saúde, exclusão social e financeira. Para os novos premiados, a ação de combate à pobreza deve mirar esforços em fatores específicos em cada uma das dimensões. Levantamento feito por Banerjee em 13 países de vários continentes, e apresentado no livro A vida econômica dos pobres, mostrou que aquelas pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza renunciam diariamente à aquisição de bens, inclusive de alimentos para prosseguir. Com isso, ficam diminuídas as possibilidades de maior produtividade.

O estudo mostra, ainda, gastos acima da renda em artigos como entretenimento. Houve ainda indicativos de falta de reação contra a qualidade do ensino, da saúde, dos transportes, o que motiva a perpetuação precária dessas questões estruturais. Para esses cientistas é preciso fortalecer todos os itens ligados a educação, saúde e infraestrutura, para dar início ao processo de superação da pobreza extrema. Para os premiados, é preciso, também, que essas populações superem a ideia de que gastar com educação é uma perda de tempo e desperdício de recursos.

Nesse ponto, eles incentivam a interação entre setores públicos e privados, inclusive veículos de comunicação.

 

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