Exibicionismo
Presidentes que ocuparam até o fim os seus mandatos, falando da redemocratização para cá, tinham como traço comum uma espécie de freio interno que os impedia de ultrapassar (em público, ao menos) a risca de giz que determina até onde pode ir um mandatário. O limite de José Sarney era a transição democrática, o de Fernando Henrique, a consciência de que o poder em si limita, o de Lula o apoio popular e/ou político. Talvez não haja necessariamente relação de causa e efeito, mas fato é que dois presidentes mandados de volta à planície antes de completado o tempo regularmente, Fernando Collor e Dilma Rousseff, não tinham ou não utilizavam essa ferramenta tão essencial ao exercício da governança. Ambos de personalidade impositiva, faziam o gênero “vão ter de me aguentar”. O senhor Jair Bolsonaro, a quem tanto apraz ser do jeito que é, sem intenção de mudar. Disso sabemos, ninguém muda depois dos 60 anos. Notório está também tratar-se de um caso de exibicionismo crônico, cujas causas aos meandros de sua mente pertencem. A dúvida, portanto, recai sobre onde pensa chegar o presidente com essa pose de valentão antiquado. É certo que desperta identificação em setores ainda amplos. Verdade também que serve de distração à ausência de qualificação para o exercício do cargo e faz a festa dos ressentidos, tanto os que o aplaudem quanto aqueles que acreditam exercer oposição atuando na mesma sintonia de insultos e fantasias persecutórias.
Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
Herodes
A perversidade em tirar a máscara do rosto de uma criança, ou em ordenar que outra assim procedesse, em plena pandemia, expondo esses pequeninos à morte, como fez Bolsonaro, é algo tão aterrador que faz lembrar o infanticida Herodes — governador da Judeia na época do nascimento de Jesus Cristo —, responsável pelo episódio bíblico conhecido como “massacre dos inocentes”. Os evangélicos bolsonaristas professam um cristianismo tão distorcido e falso que os faz até idolatrar um Herodes disfarçado de messias.
Túllio Marco Soares Carvalho
Advogado
Fim da linha
Leitores e analistas do cotidiano e da política não têm como fugir dos temas denúncias de corrupção, envolvendo a compra da vacina indiana, e da falta de milhões delas, com o Brasil caminhando para a dolorosa marca de mais de 530 mil mortos,pesquisa eleitoral apontando Lulacom possibilidade de vencer o pleito no primeiro turno. Bolsonaro prosseguindo com o rosário de idiotices, agora mandando uma criança tirar a máscara do rosto, novamente insultando jornalistas, insistindo em xingar membros da CPI da Covid, especialmente o relator Renan Calheiros, indicando que pouco aprendeu nos 28 anos que passou no Congresso, como deputado federal. Fome, miséria e desemprego crescendo, é o fim da picada a desprezível tropa sem choque dos fantoches do governo na CPI. Ministro serviçal que tem sobrenome de chuveiro, com ar de franciscano com dengue, tentando, com caras e bocas,melancólica e grotescamente, desviar o foco das acusações contra o governo, ameaçando processar os irmãos autores da grave denúncia. O assassino fugitivo mateiro, Lázaro Barbosa brincando de gato e rato com centenas de policiais. Não será, portanto, pela falta de deploráveis e patéticas atitudes, ações e acontecimentos, envolvendo pândegos e canastrões, que os brasileiros morrerão de tédio. Recordo o que escrevi, nas redes sociais, em 27 de janeiro: até as pedras das ruas sabem que a casa está caindo para Bolsonaro. O fim da linha chegando nos redutos do mito de barro.
Vicente Limongi Netto,
Lago Norte
Petrônio Portella
Petrônio Portella era um doce de pessoa: afável, conciliador e habilidoso, o político piauiense, admirado e querido por todos, havia acabado de deixar a presidência do Senado quando morreu, subitamente, aos 54 anos, em Brasília, causando uma grande comoção na cidade. Por acaso, eu o havia conhecido no Rio, quando eu tinha na casa dos 10 anos de idade, e ele era aluno de direito, na Universidade do Brasil, junto com o irmão, Lucídio, que cursava medicina. Eu me babava, apreciando os modos, a educação e a inteligência deles. Pois deu-se que quando a notícia do falecimento do Petrônio, após uma internação de emergência numa clínica da 716 Sul, se espalhou, uma grande multidão acorreu ao local e, no meio dela, o político e banqueiro Magalhães Pinto, a quem ele havia sucedido, no comando do Senado. Figura tarimbadíssima e frequentadora assídua dos holofotes da mídia, quando ele chegou ao estacionamento do hospital, uma turba de repórteres o cercou, querendo saber o que ele teria a dizer, diante da tragédia que se abatia entre nós. Magalhães Pinto esbravejou: “O azar do Petrônio foi ele não ter procurado um dos três melhores médicos de Brasília!” Os jornalistas arregalaram os olhos: “E quem seriam eles, excelência?” — “Ora essa, Vasp, Transbrasil e Varig!”.
Lauro A. C. Pinheiro,
Asa Sul
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