OPINIÃO

Artigo: Brasília, terra amaldiçoada

Fernando Brito
postado em 29/06/2021 06:00

Inúmeras e notoriamente reconhecidas são as virtudes da capital brasileira: sede de arquitetura bela e moderna; dona de céu oceânico; mãe de artistas virtuosos de raro talento. Os tempos, no entanto, não são favoráveis à nossa amada Brasília, assaltada de todos os lados por facínoras da pior espécie. Não por acaso, o programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo, exibiu reportagens repercutindo crimes que devastam o coração do Brasil.

Ao menos no primeiro caso, parte dos bandidos foram capturados. Há algumas semanas, aulas virtuais de alunos da rede pública do DF foram invadidas por abusadores que divulgaram cenas pornográficas. Impressiona a capacidade dessa gente desocupada, que não poupa nem mesmo o sagrado espaço de educação das crianças. Louvável, no entanto, foi o trabalho dos investigadores, que, com técnica arrojada, desmascaram os gângsters cibernéticos. Se existe Justiça, passarão uma boa temporada na cadeia.

Outros criminosos, no entanto, parecem debochar das forças de segurança. O caso Lázaro, que se estendeu por ao menos 20 dias, passou à população nítida sensação de fraqueza do aparato policial. A despeito dos esforços empreendidos, da dedicação de agentes que arriscaram a própria vida e impediram a ocorrência de novas barbáries, o resultado da operação de buscas, encerrada ontem, parece tardio.

Em uma brilhante cobertura jornalística, que oferece ao leitor novos detalhes diários sobre este triste capítulo da crônica policial,o Correio Braziliense revelou minúcias da infância de Lázaro. Criado em um contexto familiar desestruturado, repleto de violência, transformou-se em um monstro que assusta o noticiário de um país inteiro. Nada que justifique tamanha crueldade, mas, por certo, chama a atenção sobre a premente necessidade de se proteger a infância. Uma criança que cresce em ambiente amoroso, com exemplos de educação e trabalho, mais dificilmente cederá às tentações da vida bandida.

Se causa repulsa a violência cometida por um pária social, que dizer, então, daqueles bem-nascidos que insistem em atolar o país na lama da indecência e da insustentabilidade? Não bastasse a exoneração do antiministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que sai do governo pressionado por denúncias da Polícia Federal de participação em contrabando de madeira na Amazônia, somos, agora, atordoados por movimento semelhante em plena Floresta Nacional de Brasília (FNB), como mostrou o premiado Marcelo Canellas, domingo, na tevê. E é impressionante a capacidade do presidente Jair Bolsonaro de aparecer ao lado de gente, no mínimo, suspeita.

Não é a primeira vez que a área da FNB se vê ameaçada por exploradores. No final da década de 1990, no auge de um período de invasões territoriais que contava com a complacência do governo Roriz, foi necessária uma grande mobilização de grupos ambientalistas para que a região, onde estão as nascentes do reservatório responsável por 70% do abastecimento hídrico do DF, escapasse da ganância de grileiros. Agora, no entanto, novas hordas se levantam contra o patrimônio público. Que a força da Lei seja implacável e nos livre dessa maldição.

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