OPINIÃO

Artigo: Meio milhão de mortos

Rodrigo Craveiro
postado em 30/06/2021 06:00

Bombardeios atômicos a Hiroshima e Nagasaki, 1945. Total de mortos: 226 mil. Tsunami no Oceano Índico, 2004: 227.898 mortos. Terremoto de magnitude 7 na escala Richter, Haiti, 2010: 316 mil mortos. Pandemia da covid-19 no Brasil, 2020 e 2021: 514 mil mortos (por enquanto). É como se o triplo da população de Águas Claras desaparecesse. Ou todos os moradores de Ceilândia. Ao contrário do terremoto e do tsunami, a tragédia que se abate sobre nosso país era evitável. O número de vítimas poderia ter sido, pelo menos, reduzido. Mas o Brasil de Jair Bolsonaro escolheu o caminho do negacionismo, procrastinou a compra das vacinas, investiu em hidroxicloroquina e ivermectina, optou pela contramão da ciência, desprezou a vida. Não bastasse tudo isso, denúncias de corrupção pairam como uma sombra sobre o Planalto e o Alvorada.

Enquanto os brasileiros de bom senso se veem obrigados a respeitar o distanciamento social e o uso de máscaras, cidadãos de outros países começam a trocar abraços e a dispensar o acessório ao ar livre. Nada a ver com doutrinação ideológica ou irresponsabilidade. Graças à postura altruísta e às ações de seus líderes — rápidas e calcadas unicamente na ciência —, algumas nações diminuíram substancialmente as infecções e as mortes pela covid-19. Com 61,9% da população completamente imunizada, o Reino Unido não registra mais do que 20 mortes diárias desde 24 de abril.

Os Estados Unidos completaram o ciclo de vacinação em 54,2% da população. Na segunda-feira, 15.570 cidadãos norte-americanos testaram positivo para a covid-19 e 161 morreram. No mesmo dia, o Brasil teve 27.804 casos e 618 mortes. Detalhe: por aqui, os números sempre são mais baixos às segundas-feiras em razão das reduzidas equipes de saúde para fazer a alimentação de dados. Na Itália, foram somente 780 diagnósticos positivos e 14 óbitos.

Em vez de disseminar falácias, de retirar máscaras de crianças em meio a aglomerações e de insistir em cloroquina, o presidente deveria ter focado, desde o início, na compra transparente de vacinas. A crença ridícula na imunidade de rebanho entre não imunizados potencializou a tragédia que se abate sobre o Brasil. Em meio à mais grave crise sanitária em um século, a única preocupação de Bolsonaro parece ser com a reeleição. O destino do ex-presidente norte-americano Donald Trump, seu aliado ideológico e ídolo, deveria servir-lhe de exemplo. Saúde vale mais do que votos. Está prevista na Constituição como direito inalienável de todos os brasileiros. E um líder não devia poupar esforços para garantir esse bem a todos os seus comandados.

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