Em mais um dos embates que têm gerado as manifestações públicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Brasil passa recibo de nação isolada e sem política externa conectada com a condição de país emergente e empenhado em se fortalecer junto de seus pares. Desta vez, o alvo do ministro foi, de novo, a Argentina no episódio das polêmicas propostas brasileiras de redução da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul e de flexibilização das regras do bloco.
Na semana passada, Guedes lançou a ameaça de que haverá “problemas sérios” se o governo argentino não admitir revisar sua posição contrária aos firmes propósitos do Palácio do Planalto de espremer a TEC e permitir acordos comerciais individuais com outros países. “Não vamos sair do Mercosul, mas não vamos estar em um Mercosul movido a ideologia”, disparou o ministro, num discurso mal colocado e que envolve projetos na contramão do entendimento da própria indústria brasileira.
A Confederação Nacional da Indústria e a IndustriALL-Brasil, entidade que representa mais de 10 milhões de trabalhadores do setor, divulgaram nota conjunta, no último dia 24, em que pedem a suspensão das duas propostas. Criado há cerca de 30 anos, o Mercosul enfrenta os duros impactos da pandemia de covid-19 sobre a economia num momento agravado pelo desentendimento dos governos do bloco.
As entidades, unidas no esforço de promover o desenvolvimento da indústria e resgatar a importância da atividade para o crescimento do país, destacam que redução unilateral de tarifas levaria ao reforço da competição desigual já existente. Isso ocorreria tendo em vista que o país não resolveu os problemas considerados críticos do chamado Custo Brasil, os quais afetam a competividade da produção nacional.
Outra consequência danosa teriam acordos comerciais por iniciativa individual com outros países, enfraquecendo o bloco e seu poder de barganha, assim como a possibilidade de que países e setores com histórico de práticas desleais avancem sobre os mercados do Mercosul. A proposta representa um desserviço à tão necessária geração de emprego e à oferta nacional de produtos e serviços.
Os desgastes na imagem do país no exterior têm sido sucessivos. Se não bastasse a política conduzida durante dois anos e três meses pelo ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo, contrariando posições históricas do país no tabuleiro internacional, a saída de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente ocorreu após deterioração da imagem brasileira nas questões ambientais, e não há sinais de reversão.
Estudo feito pelos especialistas do Projeto MapBiomas, uma rede nacional colaborativa, calcula que o desmatamento avançou 13,6%, em 2020, no Brasil. Significa perda de 3.795 hectares por dia. Precedentes assim só isolam ainda mais o Brasil. Prova disso, no dia 11 deste mês, o Brasil foi excluído pelo segundo ano do encontro das maiores economias do mundo, reunidas no G7 (Canadá, Reino Unido, Itália, Japão, França, Estados Unidos e Alemanha). O grupo, no entanto, convidou os governos da Índia, Coreia do Sul e Austrália.
Empossado em abril no Itamaraty, o chanceler Carlos Alberto Franco França assumiu com expectativa de reverter o isolamento do país, mas teve de se ocupar de dois incêndios. Um deles foi desfazer o mal-estar provocado pelas críticas do presidente Jair Bolsonaro e do colega da Economia, Paulo Guedes, à China. Precisou também ir à Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados para esclarecer inverdades ditas pelo embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, motivado por questões ideológicas.
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