Crianças e adolescentes pedem socorro. Vulneráveis, são alvos dos crimes mais perversos, mais horripilantes. Espancamento, tortura, estupro e morte de meninos e meninas ocorrem diariamente neste país. Mas nós fazemos ouvidos moucos. Tratamos cada barbárie como se fosse uma fatalidade, algo inevitável.
Na última segunda-feira, morreu em Minas Gerais o menino de 6 anos espancado pelo pai porque errou o dever de casa. O miserável desferiu uma série de socos no rosto e no crânio da criança. Em seguida, deu uma rasteira, o que a fez bater a cabeça num móvel e ficar inconsciente — para não mais acordar. Há outro fato devastador no caso: o maldito chegou a ter o poder familiar suspenso justamente por agressões ao garotinho, mas o retomou! Ele está preso, porém, com nossa legislação “penal” totalmente favorável a criminosos, sabemos que não ficará muito tempo atrás das grades.
Também na segunda-feira, a Polícia Militar de Contagem (MG) prendeu um desgraçado que estuprava a filha, de 13 anos. O patife aproveitava a ausência da esposa — madrasta da vítima — para praticar o crime. A menina usou uma rede social para pedir ajuda a uma pessoa, que acionou o Conselho Tutelar.
Crimes semelhantes ocorrem diariamente. A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, que mantém o Disque 100, contabilizou 95.252 denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes em 2020. Cerca de 75,9% dos casos ocorreram no ambiente familiar. E os números nem refletem a terrível realidade, pois há subnotificação.
Até quando vamos ignorar tanta dor e sofrimento? Por quanto tempo ainda vamos virar o rosto enquanto a tortura e a mortandade de crianças e adolescentes se avolumam? Por que o país é tão complacente com a violência contra meninos e meninas?
Há lutas nacionais por minorias, pelas mulheres. E todos precisam, urgentemente, de terem seus direitos assegurados, claro, mas nenhum grupo é mais vulnerável do que o de crianças e adolescentes. Meninos e meninas também têm de ser protegidos. Eles devem ser tratados com “absoluta prioridade”, como determina a Constituição em seu artigo 227. Mas isso ocorre? De jeito nenhum.
O enfrentamento à violência contra os indefesos tem de ser uma missão conjunta de família, sociedade e Estado. Campanhas maciças de prevenção, conscientização do papel de cada um de nós na rede de proteção, órgãos estruturados para atendimento às vítimas e leis realmente rígidas contra os algozes são medidas imprescindíveis. É urgente que nos mobilizemos. A barbárie se agiganta à nossa frente. Até quando fingiremos não enxergar?
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