Exemplos vindos do passado mostram que as crises são, por excelência, o momento adequado para extrair lições e oportunidades para o aperfeiçoamento da vida, individual e coletiva. Caso o atual governo tenha aprendido algum ensinamento útil com os efeitos da pandemia da covid-19 e com o número assustador de meio milhão de mortos por essa doença, o que parece absolutamente improvável, dado à total ausência de providências eficazes tomadas ao longo de quase dois anos de crise sanitária, a primeira e talvez mais importante medida, seria a revalorização de todo o Sistema Único de Saúde (SUS), conferindo a esse importante e gigantesco organismo todos os meios possíveis para que, doravante, ele se firme como uma espécie de porto seguro para os brasileiros em tempos adversos.
Aliás, é preciso ressaltar aqui que não fosse o SUS, com todas as suas virtudes e carências, o número de mortos durante a pandemia seria, no mínimo, mais do que o dobro do que a registrado até aqui. Obviamente quando se fala de um sistema dessa magnitude e complexidade, o que está em jogo não são apenas os recursos materiais e logísticos necessários para a boa realização dessa tarefa, mas, sobretudo, os recursos humanos fundamentais para que todo esse portento funcione de forma exemplar e humanizada, como desejam aqueles que entendem desse assunto.
O lado positivo dessa crise sanitária, que ainda vai provocando seus efeitos maléficos, é que a maioria dos brasileiros, de uma hora para outra, parece ter dado conta do quão importante e vital tem sido a presença do SUS e quão importante e necessário foi também seu corpo técnico na pandemia. O trabalho abnegado e corajoso de enfermeiros e médicos dessa instituição jamais será esquecido. Sem essa força de frente, equivalente a infantaria no Exército, os primeiros fronts dessa guerra já teriam sido dominados pelo inimigo invisível. Foi o empenho sobre-humano dessa tropa, que forneceria aos cidadãos, o exemplo e o ânimo que faltavam para entusiasmar a população, fazendo-a ver que, é da união desse tipo de brasileiro, que podemos contar em momentos de aflição e não com pretensas autoridades que nesse conflito, preferiram ficar longe do front, ao abrigo e proteção de seus bunkers oficiais.
As perspectivas com os desdobramentos dessa pandemia, que ninguém sabe ao certo onde irão, apontam para a necessidade da criação de escolas de enfermagem, de cursos superiores em saúde pública e sanitária, de incrementos nos cursos de epidemiologia, virologia, de farmácia, de gestão hospitalar e de outras especialidades próprias ao combate às epidemias.
Por outro lado a epidemia mostrou, claramente, a necessidade de reformulação do todo o sistema de institutos como o Butantã e a Fiocruz , dando a esses centros de pesquisa e produção de vacinas todo o apoio material e humano que esse conjunto de cientistas precisam para fazer o país retornar à posição de destaque que possuía anteriormente.
Alguns chegam a falar na criação de um imenso complexo de laboratório e pesquisa nacional, equipado com o que de melhor existe em pessoal e equipamentos, tornando o Brasil soberano e exemplo nas questões de epidemias. Ou se fecha definitivamente essa porta, arrombada pela covid-19 em quase dois anos de duração, ou estaremos condenados a experimentar no futuro o gosto amargo e frio da morte.
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