INTERNACIONAL

Biden, o sonhador

"Quando se reuniu com Putin, foi alvo de enigmático sorriso do Russo, algo difícil de se ver. Trump, apesar de tudo, era mais esperto e capaz de ler melhor cenário internacional"

SACHA CALMON
postado em 04/07/2021 07:00
 (crédito: kleber)
(crédito: kleber)

No documento oficial da Cúpula de 14 de junho, pela primeira vez, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) apontou nominalmente a China como desafio para seus membros. Ao contrário da estratégia de Donald Trump, a política externa de Joe Biden quer restabelecer os pilares da ordem mundial liberal, erigida com a consolidação da liderança americana na sequência da vitória na Segunda Guerra Mundial. O presidente joga no tabuleiro do Indo-Pacífico em busca de oportunidades para se contrapor à capacidade de liderança e às ambições chinesas. A expansão dos projetos geopolíticos de Pequim tem criado diversos descontentamentos na Casa Branca.

Alegações de que investimentos chineses criam dívidas impagáveis para os beneficiários estimularam críticas severas em países como Malásia, Maldivas, Montenegro, Sri Lanka e Indonésia, que não são da conta dos Estados Unidos. A atual administração da Casa Branca tenta encorajar seus tradicionais parceiros a estabelecerem planos multilaterais robustos no enfrentamento da influência chinesa com arranjos militares, coisa do passado. A luta é comercial, e não ideológica.

Nos anos de Trump, os Estados Unidos enfatizavam apenas suas capacidades nacionais de fazer frente aos planos chineses. As iniciativas diplomáticas do presidente republicano para buscar aliados se reduziam, de fato, às tentativas de institucionalizar arranjos como o Quad de acordo com suas políticas militares.

Com este enfoque, não houve resultados expressivos na desejada atração nem mesmo dos parceiros do próprio Quad. Austrália, Índia e Japão continuaram reticentes em assumir movimentos assertivos contra Pequim e indicavam considerar os EUA como parceiro pouco confiável. Mais que isso, Washington assistiu à proliferação de estratégias nacionais para o Indo-Pacifico não apenas dos integrantes do Quad, mas também do Reino Unido, da França, da Alemanha e de blocos regionais como a Asean. Agora Biden quer ser o dono do mundo. Mas como?

Na reunião dos líderes do G-7, foram lançadas as bases do “Reconstruir um mundo melhor”, iniciativa que emula a estratégia nacional de Biden, “Build Better Back”. Ainda em estágio preparatório com a África, já tomada pela China, pretende prover crédito de US$ 40 trilhões, durante 15 anos, com apoio da iniciativa privada, para estabelecer projetos de infraestrutura em países de baixa renda que valorizem esforços anticorrupção, regras ambientais e transparência nas questões financeiras. Vale destacar que a iniciativa foi apresentada numa reunião em que o anfitrião, o Reino Unido, convidou Índia, Austrália e Coreia do Sul, três potências do Indo-Pacífico. Isso é possível ou sonho irrealizável?

O “Reconstruir um Mundo Melhor” busca integrar diversos projetos de iniciativas de membros do G-7. O Japão se destaca por sua tradicional diplomacia de promoção de investimentos e desde 2017 está empenhado em consolidar o Corredor de Crescimento Ásia-África em parceria com a Índia, focado em parcerias nos setores de saúde, tecnologia e infraestrutura.

Porém, enquanto diplomatas indianos dão sinais favoráveis ao projeto, aparecem receios de membros da União Europeia. A Itália teme que medidas provocativas contra Pequim provoquem reações negativas sobre seus vantajosos fluxos comerciais e também sobre os investimentos chineses, da ordem de US$ 98 bilhões nos últimos anos. Roma aderiu recentemente à BRI, para descontentamento de parceiros do G-7. Esse G7 foi idealizado em face da União Soviética, que nem existe mais. A Rússia e a China são hoje capitalistas, embora autocráticas.

Os países do G-7 se comprometeram a doar também um bilhão de doses para países mais pobres por meio do sistema Covax da ONU. Esse ponto é tema controverso entre os europeus. A China se fortaleceu como grande doadora de imunizantes para diversos países e com isso reforçou seus laços diplomáticos com Budapeste.

A Hungria foi o primeiro país da União Europeia (UE) a receber doses de vacinas chinesas, além de robustos fluxos de investimento chinês, com destaque para a inauguração do primeiro complexo universitário chinês no território da zona de integração europeia. O movimento foi seguido pela Sérvia, um dos países interessados em aderir à UE e que se destaca no continente pela velocidade do programa de imunização. O presidente Aleksandar Vucic se referiu a Xi Jinping como “irmão” e beijou a bandeira chinesa ao receber respiradores, equipamentos de segurança e máscaras contra a covid-19 em Belgrado.

As asserções baseiam-se em João Paulo Nicolini Gabriel, doutorando em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e em Carlos Eduardo Carvalho, professor da PUC-SP, Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas.

Biden acha que o mundo carece de lideranças, mormente a Europa, é o contrário. Está colhendo antipatias e já se nota mais moderação em seus discursos. Quando se reuniu com Putin, foi alvo de enigmático sorriso do Russo, algo difícil de se ver… Trump, apesar de tudo, era mais esperto e capaz de ler melhor o cenário internacional.

 

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Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Brasil necessita de cabeças pensantes

Contra a polarização na política, uma fórmula em si perigosa e desprovida de capacidade de entendimento do país como ele é, não como querem esses falsos protagonistas, postados, cada um, em lado opostos de um mesmo e profundo abismo, existem opções de bom tamanho. A questão é,:como poderiam essas opções ocuparem espaço adequado num ambiente tão conturbado e repleto de indivíduos cuja inteligência mede-se pelo comprimento do radicalismo que exalam?

Estamos numa encruzilhada histórica, e como as experiências vindas do passado ensinam, esse é o momento em que todo o encadeamento do futuro se faz presente. Caso o trem desse destino tenha a má sorte de ser posto em linhas erradas, as chances de retornarmos à gare de origem, onde repetiremos os mesmos erros, são reais, assim como irmos de encontro a um paredão, destruindo por completo nosso vagão.

De fato, a discussão em torno desses nomes principais e desastrosos que aí estão à baila tem deixado pouco espaço para o surgimento de outras vertentes mais dignas e quiçá mais detentoras de qualidades pessoais. Uma outra questão que surge dessa necessidade urgente por um nome à altura dessa missão de unir a nação, na trilha central e segura, vem justamente pelo impedimento colocado pelas dezenas de partidos, que obstam qualquer um que não seja consagrado pelos caciques e donos dessas legendas.

Nesse turbilhão onde todos reclamam por seu quinhão, não há brechas para apelos por união, muito menos palanques para os que apelam para a razão. Num exercício de pura ficção, mas que poderia carregar algumas fórmulas que nos livrem desse hospício em que estamos encarcerados há décadas, suponhamos que todos os estados da federação, de forma autônoma, reunissem e organizassem grupos compostos por nomes que a sociedade civil reconhece como probos e fornido curriculum admirável, verdadeiros conselheiros, a quem todos recorrem nas horas de aflição. Essa é uma possibilidade real e que poderia, em tese, funcionar, ou ao menos trazer algumas luzes que indicassem o caminho das pedras nesse pântano escuro em que estamos imersos.

Seriam esses conselhos de notáveis, apartidários, no seu trabalho de elucubração metódica, que dariam a tônica para sairmos do impasse da polarização entre o ruim e o péssimo. Por certo esses conselhos, formados nos estados, dariam ênfase ainda a uma proposta de reforma do Estado, capaz de pôr um fim a um modelo, que já insistimos aqui, está montado para não funcionar em prol do Brasil e, sim, em favor dessas elites que aí estão e que parecem ser as únicas beneficiárias com esse caos.

Em outros tempos e lugares, fórmulas semelhantes funcionaram e serviram de remédio contra sistemas visivelmente enfermos e viciados. A reunião desses diversos conselhos numa grande assembleia nacional fecharia as propostas num consenso, dando os rumos que precisamos e que, por certo, passam longe desses partidos que aí estão e de seus próceres, como também de toda uma máquina azeitada que tem servido para moer a carne da nação, servida sempre nesse banquete de sanguessugas.

Ou se recorre a essas cabeças pensantes, ou aceitamos a temperatura estabelecida por esses donos do forno do inferno.

 

A frase que foi pronunciada

“Existem diferenças significativas entre a versão americana e a europeia do capitalismo. O americano tradicionalmente enfatiza a necessidade de um governo limitado, regulamentações leves, impostos baixos e flexibilidade máxima do mercado de trabalho. O seu sucesso tem-se demonstrado sobretudo na capacidade de criar empregos, nos quais é sempre mais bem-sucedido do que a Europa.”

Margareth Thatcher


Natureza e Educação
Compostagem é um caminho interessante para quem mora em casa. O tratamento do lixo de forma enriquecedora para a terra nutre e fortalece a resistência das plantas. Trata-se de prática simples que diminui o caos nos lixões. Veja sugestões de compostagem divulgadas pelo Senado Federal no blog do Ari Cunha.


Recadinho
Pátria Latina, um site que prega a união dos povos trouxe uma notícia nada amigável. O presidente do maior país da Ásia oriental avisou que quem se meter em pesquisar a fundo a origem do tormento mundial e aborrecer ou intimidar aquela nação terá a cabeça esmagada. Veja o link no blog do Ari Cunha


História de Brasília

Se forem alegadas deficiências técnicas é incompetência do pessoal. Que seja mudado, então, porque em fevereiro de 1960 o general Eisenhower falava de Brasília, onde estivesse, com a Casa Branca. E mais: chegou a falar com seu Secretário de Estado, de seu automóvel, no percurso do Eixo Rodoviário, a caminho do aeroporto militar.
(Publicada em 04.02.1962)

 

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