Por ADEMAR CELEDÔNIO — Diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação
Em uma partida entre as seleções da Dinamarca e da Finlândia, disputada pela primeira rodada do Grupo B da Eurocopa, o jogador dinamarquês Christian Eriksen caiu após sofrer um mal súbito. Felizmente, houve atendimento rápido, ele reagiu e passa bem. Poucas horas depois, as redes sociais foram bombardeadas por boatos que relacionavam o quadro de saúde do jogador a uma possível reação à vacina contra a covid-19. Em seguida, o diretor-executivo da Inter de Milão, time atual do atleta, confirmou que Eriksen não havia se vacinado e não tinha covid. Antes disso, no Twitter de um blogueiro brasileiro, a notícia falsa já tinha mais de 10 mil curtidas.
O Brasil é um dos países mais afetados por fake news sobre vacinas e covid-19, ocupando a terceira posição, atrás apenas de Estados Unidos e Índia, segundo um estudo recente de cientistas australianos (COVID-19 vaccine rumors and conspiracy theories: The need for cognitive inoculation against misinformation to improve vaccine adherence). A situação da pandemia e da disseminação é grave em todas as nações, mas infelizmente permanece descontrolada no nosso país. A questão é complexa e tem sido combatida pelos principais veículos de imprensa e muitos agora têm um espaço fixo para verificação de notícias falsas. E como esse cenário tem impactado os jovens e quem pode ajudá-los a “remar contra a maré” e identificar o que é verdadeiro entre tantas correntes de WhatsApp e redes sociais?
Relatório divulgado, neste ano, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no documento Leitores do século 21: Desenvolvendo habilidades de alfabetização em um mundo digital, mostra que apenas 67% dos jovens brasileiros de 15 anos sabem diferenciar fatos de opiniões. E, neste contexto de múltiplas notícias fake, a escola tem papel fundamental na orientação dos alunos para ensiná-los a diferenciar notícias falsas das verdadeiras.
Mais do que preparar os jovens para argumentação e seleção de informações relevantes, o combate às fake news na escola tem função também de garantir a saúde pública. A cobertura vacinal no Brasil reduziu percentualmente de forma acelerada durante a pandemia, mas os índices vinham caindo anualmente. Dados do Plano Nacional de Imunização (PNI), mostram que, em 2015, a cobertura da vacinação infantil atingiu seu melhor índice, chegando a quase 100% em alguns casos, como a de poliomielite, que teve 98,3% de abrangência nacional.
Em 2020, essa porcentagem caiu para 75,9%. A falha na cobertura não está relacionada apenas à pandemia, mas também ao aumento das campanhas falsas contra a eficácia das vacinas em geral. Das nove vacinas oferecidas para crianças de até 30 dias no Sistema Único de Saúde (SUS), oito apresentaram queda da cobertura no ano passado. No caso da hepatite B, apenas 62,8% dos bebês com até um mês haviam tomado a primeira dose. Esse quadro preocupante pode ser revertido com o apoio da escola.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada desde 2017 no Brasil, trabalha algumas habilidades fundamentais no combate às fake news. No 7º ano de Ciências, por exemplo, ela trata diretamente da argumentação sobre a importância da vacinação para a saúde pública, com base em informações a respeito de sua atuação no organismo e seu papel histórico para a manutenção da saúde individual e coletiva e para a erradicação de doenças. Ou seja, a BNCC oferece bases para preparar os estudantes brasileiros e ensiná-los a separar informações falsas das verdadeiras.
Entre outras habilidades desenvolvidas há a seleção de argumentos e evidências que demonstram a esfericidade da Terra. Dentro do campo jornalístico midiático, BNCC traz a introdução da diferenciação da liberdade de expressão dos discursos de ódio, posicionando-se contra esse tipo de discurso e vislumbrando a possibilidade de denúncia quando for o caso. Para o 6º ano, em língua portuguesa, há o reconhecimento da impossibilidade de uma neutralidade absoluta no relato de fatos e orientação quanto a identificar diferentes graus de imparcialidade e parcialidade dentro destes recortes. Ao orientar os estudantes e ensinar as habilidades básicas do currículo, educadores e escolas fazem a sua parte em prol da ciência, da saúde e do futuro do país.
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