OPINIÃO

Artigo: O aviso da Euro à Copa América

Marcos Paulo Lima
postado em 10/07/2021 06:00

As finais da Copa América, hoje, às 21h, no Rio; e da Eurocopa, amanhã, às 16h, em Londres, dividem o futebol em duas maneiras distintas de praticá-lo. Protagonistas da decisão no Maracanã, Brasil e Argentina são dependentes de um fora de série salvador da pátria. Rivais em Wembley, Itália e Inglaterra não têm referências. Potencializam o jogo coletivo.

A promoção do clássico entre Brasil e Argentina explica o jejum da América do Sul na Copa do Mundo. A final desta banda do Oceano Atlântico é tratada como se fosse final de Roland Garros ou Wimbledon entre Neymar “Federer” e Messi “Nadal”. Não é nem deveria ser assim.

Brasil e Argentina não conseguem se libertar dos vícios de 1986, 1994 e 2002, quando Maradona, Romário e Ronaldo, respectivamente, colocaram a bola embaixo do braço, a capa nas costas e tornaram-se super-heróis nas conquistas da Copa. O mundo da bola mudou.

Messi e Cristiano Ronaldo dominaram os prêmios de melhor do mundo de 2008 a 2017. Embora sejam os “Pelés” deste século, ainda não conquistaram a Copa porque Argentina e Portugal insistem em montar seleções em função da individualidade. Sim, os lusitanos ganharam a final da Euro-2016 contra a França sem CR7 na maior parte do jogo, mas foi mais sorte do que juízo.

A Europa arrematou as últimas quatro edições da Copa e estabeleceu dinastia porque aprendeu a não depender de um salvador da pátria. A Itália de 2006 não era um por todos e todos por um. Muito menos a Espanha de 2010, a Alemanha de 2014 ou a França de 2018.

Mentores daquelas seleções, Marcello Lippi, Vicente del Bosque, Joachim Löw e Didier Deschamps iniciaram e consolidaram um modelo. No entanto, os sul-americanos insistem em esperar que Neymar, Messi, Suárez ou Cavani sejam os novos libertadores da América.

Não é mais assim no futebol de seleções nem no de clubes. Cristiano Ronaldo, Mbappé e De Bruyne não chegaram à semifinal da Euro. O Chelsea acaba de conquistar o bi da Champions League coletivamente. Bayern e Liverpool também, em 2020 e em 2019. Notou a coincidência? Não havia Messi ou Neymar da vida no elenco. Tuchel, Flick e Klopp construíram times.

Faltam 499 dias para o início da Copa do Qatar, em 21 de novembro de 2022. Tempo para Argentina, Brasil e Uruguai reinterpretarem o jogo, assimilarem o que virou mantra de Tite: “O coletivo potencializa o individual”. Há dois anos, ele fez a Seleção funcionar como time e ganhou a Copa América sem Neymar. Inclusive, eliminou a Argentina, de Messi, na semifinal. Conseguirá o bi com Neymar em campo?

O aviso da Euro à Copa América é duro. Enquanto Brasil e Argentina promovem duelos à parte entre Neymar e Messi, Itália e Inglaterra se aperfeiçoam como porta-vozes de um Velho Continente que empilha copas jogando coletivamente. Pode ser a quinta seguida em 2022!

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