Das incontáveis dores que esta pandemia nos trouxe, uma é especialmente insuportável pra mim: ver o quanto as mulheres são ainda mais penalizadas. Agredidas, assediadas, humilhadas, caladas, escravizadas, mortas. Cresceram os feminicídios, as violências diversas, os ataques pela internet, o trabalho doméstico e o profissional. Subiram as vozes que reforçam machismo, misoginia e preconceito. Prosperaram as dores que já eram tantas. Baixou a renda e aumentou a solidão.
Não faltam estatísticas e exemplos. Pipocam as notícias da matança desenfreada e, nas redes sociais, preponderam as fake news e os xingamentos e ameaças contra mulheres jornalistas e artistas pelos apoiadores deste governo negacionista. Somam-se a isso o isolamento, a solidão, a ansiedade, a orfandade e o medo. A elas, sobretudo, a pandemia ofereceu sua face mais sombria.
Não tenho dúvida de que a mais importante estratégia de defesa contra tudo isso é uma só: a rede de solidariedade e proteção formada por outras mulheres. Ao contrário do que os próprios homens, com seus discursos machistas, costumam ventilar, mulheres ajudam mulheres. E a força dessa amizade constrói e reconstrói — laços, pontes, vidas inteiras.
A sororidade, essa palavrinha difícil e relativamente nova, é a força motriz de um processo que empodera mulheres pelas mãos de outras mulheres. Elas acolhem, abraçam, levantam, ajudam no que for possível. Cuidam dos filhos das outras, escutam, amparam e seguem juntas na construção de uma vida que não será melhor sem esse amparo mútuo.
Eu me emociono com minhas amigas mulheres, capazes de se sensibilizar com as dores de outras e de oferecer colo e atenção, quando nada mais parece dar certo. Quando leio sobre jornalistas agredidas ou mulheres mortas por aqueles que amaram, sinto que o mundo segue sendo profundamente injusto e desumano. Mas sei também que a ausência de proteção do Estado e das leis, ainda brandas, não é páreo para a imensa rede feminina de combate às injustiças e à barbárie — esta sim é maior que todo o resto, embora ainda não suficiente.
É por isso que, caras leitoras, precisamos reforçar dia a dia esse fio condutor de amorosidade que só nossa amizade genuína é capaz de construir e reconstruir dia a dia. Não se demore: neste domingo, ligue para uma amiga, ouça sua voz, levante seu ânimo, ofereça seu colo. Tenha certeza de que receberá de volta amor, atenção e gratidão por toda a vida. E isso não tem preço.
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