OPINIÃO

Artigo: A escolha é nossa

Correio Braziliense
postado em 12/07/2021 06:00

CARLOS RODOLFO SCHNEIDER — Presidente da Ciser

Somos um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como cantado em verso e prosa, mas não temos conseguido transformar isso em crescimento sustentado nas últimas quatro décadas, depois de termos liderado o crescimento mundial entre as décadas de 1950 e 1970. Dados do FMI revelam que em 1980 o PIB dos EUA, em Paridade de Poder de Compra (PPP), equivalia a 4,8 vezes o brasileiro, que por sua vez era praticamente o dobro do chinês. Em 2019, a relação entre o americano e o brasileiro cresceu para 6,22 vezes, enquanto o PIB da China, pelos mesmos critérios, ultrapassara o dos EUA e equivalia a quase nove vezes o brasileiro. Esse passo lento do Brasil não é obra do acaso nem do destino. É falta de competitividade do país.

Crescimento em última instância depende da competitividade da economia. E não temos estado lá tão bem nos rankings internacionais. Mesmo tendo ganho uma posição no levantamento de 2019 do Institute for Management Development (IMD), passamos para a 59ª colocação entre 63 países pesquisados, isto é, quase no fim da fila. Dos critérios avaliados, a eficiência do governo (incluindo a burocracia) está na 62ª posição, só à frente da Venezuela. Da mesma forma, o ranking Competitividade 2019-2020 da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra o Brasil na 17ª posição entre 18 países pesquisados, à frente apenas da Argentina. Por isso, são fundamentais os esforços que vêm sendo feitos nos últimos anos para melhorar o ambiente de negócios, e mais ainda, a consciência do muito que ainda há por fazer, especialmente as reformas micro e macroeconômicas.

O atraso na implementação das medidas necessárias acaba impactando fortemente a produtividade, componente decisivo para a competitividade da economia. O economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade Columbia, nos EUA, aponta que, em 1980, os trabalhadores brasileiros e coreanos produziam um terço do que os americanos, e hoje um coreano produz 63% e um brasileiro apenas 23%. Isto é, andamos para trás, e, por isso, não conseguimos nos livrar da armadilha da renda média.

O Brasil não consegue acompanhar o crescimento do conhecimento dos seus pares, como China e Índia, muito menos dos países desenvolvidos. Segundo Scheinkman, “sem uma reforma do Estado brasileiro, é difícil avançar na agenda da produtividade”. É a reforma administrativa em discussão no Congresso. A sociedade brasileira precisa decidir quando quer colher esses resultados: no curto prazo, para tentar recuperar espaço perdido para os outros países, ou na maior parte apenas na próxima geração, a prevalecer a proposta em tramitação na Câmara dos Deputados, que sugere seus efeitos apenas para os novos servidores.

O Observatório da Produtividade, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas, levantou que a produtividade do trabalhador brasileiro por hora trabalhada vem caindo 0,4% ao ano desde 2013. E também alerta, que para aumentar a renda da população é essencial melhorar a produtividade. Bem como o é para a retomada consistente da economia. Os estímulos casuais do consumo, que temos visto nos últimos anos, permitem apenas recuperações cíclicas, os chamados voos de galinha. Crescimento sustentado depende de investimentos, em níveis adequados, e regulares. São eles que permitirão o crescimento da produtividade e do PIB potencial. Dos necessários 25% do PIB, temos visto eles recuarem para 15%, com uma surpreendente exceção neste primeiro trimestre de 2021, quando alcançaram 19,4%. Em infraestrutura, precisaríamos aplicar 5% do PIB, mas não passamos de 1,55% no ano passado. A capacidade de investimento do Estado foi corroída pelo crescimento dos gastos obrigatórios, e do consumo do governo, que ronda os 20% do PIB. É o meio transformado em fim, às custas de crescente extração de produtividade da sociedade brasileira para custear aumento de gasto público.

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, destaca a importância de reformas para estimular o crescimento econômico. As mudanças no sistema tributário, “que impõe um pesadelo burocrático diuturno às empresas, enredadas num número enorme de exigências descabidas”. E a modernização da administração pública, “tornando o Estado brasileiro mais leve e eficiente, além de menos caro para a sociedade”. É fazer mais com menos, e melhor, em respeito ao contribuinte.

Na mesma direção, o brasileiro Otaviano Canuto, ex-diretor executivo do Banco Mundial e do FMI, e atualmente o diretor do Center for Macroeconomics and Development em Washington, alerta que “o Brasil tem um problema estrutural, que é a combinação entre a anemia da produtividade e a obesidade do setor público”. Recomenda gastar menos em emendas parlamentares, em remuneração do setor público e em benefícios fiscais, reconfigurando o gasto público. Do lado da produtividade, destaca a necessidade de melhorar a qualidade do ensino e o ambiente de negócios por meio de reformas, se quisermos melhorar o nosso PIB potencial, que não passa de 2,5%, muito atrás dos países com quem competimos no mercado internacional.

A escolha é nossa, e a pressa é nossa. Mais juízo no presente para colhermos no futuro, ou menos responsabilidade no presente e conta alta para pagar no futuro. Senso de urgência, que abandonamos há muito, faz parte da fórmula.

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