Visão do Correio

Artigo: Amazônia como vilã

Correio Braziliense
postado em 15/07/2021 06:00 / atualizado em 15/07/2021 09:55
 (crédito: Nathalia Segato/Unsplash)
(crédito: Nathalia Segato/Unsplash)

Até bem pouco tempo, a Amazônia era considerada o pulmão do mundo pela sua capacidade de absorção dos gases de efeito estufa. Hoje, a região caminha para a condição de vilã do clima. Em vez de reter, passou a emitir 0,29 bilhão de toneladas de carbono por ano, um dos elementos que mais contribuem para o aquecimento global, segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicado na revista científica Nature, uma das mais respeitadas do mundo.

A região vem sendo empurrada para o status negativo pela vilania dos desmatadores, que utilizam motosserras e fogo para devastar a maior floresta tropical do mundo. Devido às queimadas e ao desmatamento, “a Amazônia, hoje, é uma fonte de carbono”, explica Luciana Vanni Gatti, uma das autoras do estudo do Inpe. A pesquisa se deu com a coleta de 590 amostras do ar em diferentes altitudes, entre 4.420 metros a 300 metros acima do nível do mar, com o auxílio de aviões em quatro locais da Amazônia, entre 2010 e 2018.

A transformação ocorre sob olhar indiferente do governo com os predadores da floresta. Desde de 2019, prevalece uma política ambiental de estímulo à exploração econômica da região — seja pela agropecuária, seja pelas mineradoras e pelos madeireiros —, que desconsidera o valor e a importância da floresta em pé. Os condutores da política antiambiental ignoram o impacto climático do desmatamento, principalmente nos regimes de chuva, um dos principais insumos para o agronegócio, com peso expressivo na economia nacional.

A redução do índice pluviométrico afeta as barragens e hidrelétricas, o que leva ao racionamento da oferta de energia essencial em todos setores produtivos e submete a sociedade ao desconforto evitável, por meio de sucessivos apagões e menor oferta de água para consumo humano e dessendentação animal. Sem contar com o aumento das tarifas de energia, devido à necessidade de uso de termelétricas, o que afeta diretamente o bolso dos consumidores.

Na última terça-feira (13/7), em cerimônia por meio virtual, com a participação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o diretor nacional do Instituto de Meteorologia (Inmet), Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, anunciou que os alertas de focos de incêndio deixarão de ser emitidos pelo Inpe e passarão a compor o sistema de meteorologia. A mudança surpreendeu os pesquisadores, sobretudo, os que fazem o acompanhamento dos impactos humanos no patrimônio natural em todas as regiões do país.

A mudança, entretanto, não retira o Brasil do radar dos países, organismos e investidores nacionais e internacionais que acompanham de perto a política ambiental brasileira. Diante dos avanços tecnológicos, não há como maquiar dados para reverter a péssima imagem do Brasil pelo descaso com a Amazônia e outros biomas. Hoje, a maioria das nações está afinada com as metas do Acordo de Paris, para mitigar os danos do aquecimento global. Estão cientes de que a preservação da vida no planeta depende de uma revisão completa do sistema de produção de bens e produtos destinados ao consumo. Até agora, as ações do governo brasileiro seguem na contramão da tendência mundial.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação