Até bem pouco tempo, a Amazônia era considerada o pulmão do mundo pela sua capacidade de absorção dos gases de efeito estufa. Hoje, a região caminha para a condição de vilã do clima. Em vez de reter, passou a emitir 0,29 bilhão de toneladas de carbono por ano, um dos elementos que mais contribuem para o aquecimento global, segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicado na revista científica Nature, uma das mais respeitadas do mundo.
A região vem sendo empurrada para o status negativo pela vilania dos desmatadores, que utilizam motosserras e fogo para devastar a maior floresta tropical do mundo. Devido às queimadas e ao desmatamento, “a Amazônia, hoje, é uma fonte de carbono”, explica Luciana Vanni Gatti, uma das autoras do estudo do Inpe. A pesquisa se deu com a coleta de 590 amostras do ar em diferentes altitudes, entre 4.420 metros a 300 metros acima do nível do mar, com o auxílio de aviões em quatro locais da Amazônia, entre 2010 e 2018.
A transformação ocorre sob olhar indiferente do governo com os predadores da floresta. Desde de 2019, prevalece uma política ambiental de estímulo à exploração econômica da região — seja pela agropecuária, seja pelas mineradoras e pelos madeireiros —, que desconsidera o valor e a importância da floresta em pé. Os condutores da política antiambiental ignoram o impacto climático do desmatamento, principalmente nos regimes de chuva, um dos principais insumos para o agronegócio, com peso expressivo na economia nacional.
A redução do índice pluviométrico afeta as barragens e hidrelétricas, o que leva ao racionamento da oferta de energia essencial em todos setores produtivos e submete a sociedade ao desconforto evitável, por meio de sucessivos apagões e menor oferta de água para consumo humano e dessendentação animal. Sem contar com o aumento das tarifas de energia, devido à necessidade de uso de termelétricas, o que afeta diretamente o bolso dos consumidores.
Na última terça-feira (13/7), em cerimônia por meio virtual, com a participação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o diretor nacional do Instituto de Meteorologia (Inmet), Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, anunciou que os alertas de focos de incêndio deixarão de ser emitidos pelo Inpe e passarão a compor o sistema de meteorologia. A mudança surpreendeu os pesquisadores, sobretudo, os que fazem o acompanhamento dos impactos humanos no patrimônio natural em todas as regiões do país.
A mudança, entretanto, não retira o Brasil do radar dos países, organismos e investidores nacionais e internacionais que acompanham de perto a política ambiental brasileira. Diante dos avanços tecnológicos, não há como maquiar dados para reverter a péssima imagem do Brasil pelo descaso com a Amazônia e outros biomas. Hoje, a maioria das nações está afinada com as metas do Acordo de Paris, para mitigar os danos do aquecimento global. Estão cientes de que a preservação da vida no planeta depende de uma revisão completa do sistema de produção de bens e produtos destinados ao consumo. Até agora, as ações do governo brasileiro seguem na contramão da tendência mundial.
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