Violência de Gênero

Quantos DJs Ivis existem por aí?

É longo e penoso o caminho das mulheres até chegarmos a uma realidade menos hostil e mais segura. Não se trata de um erro, de um fato isolado, de um momento de descontrole

Ana Dubeux
postado em 18/07/2021 06:00
 (crédito: Kieferpix/University College London/Divulgação)
(crédito: Kieferpix/University College London/Divulgação)

Quando a gente começa a semana assistindo a cenas de um homem espancando sua mulher em pleno puerpério, a nossa esperança desce ralo adentro. Não que sejam surpreendentes as imagens de selvageria protagonizadas por seres que dizem homens. São comuns a ponto de constranger, revoltar, odiar até. Mas o caso do DJ Ivis, denunciado com o estardalhaço que merece, revela que, de fato, estamos muito distantes de uma realidade melhor para as mulheres. Mais do que isso, mostra a falência da nossa condição humana.

É longo e penoso o caminho das mulheres até chegarmos a uma realidade menos hostil e mais segura. Não se trata de um erro, de um fato isolado, de um momento de descontrole. Agredir e violentar mulheres é um crime rotineiro, alimentado pelo machismo estrutural. O martírio imposto às mulheres abrange violência psicológica, física, patrimonial. E ainda é combatido com penas brandas demais.

Sabemos todos que a prisão do DJ só saiu por conta da grande repercussão. Certamente, os contratos perdidos e o encarceramento não pagam o sofrimento imposto à sua mulher e à sociedade como um todo — saibam que os reflexos são duradouros, impactando não apenas a vida da vítima, mas de seus filhos, de sua comunidade, de todos nós que olhamos essas imagens grotescas.

Deixemos de “mas...”, “vejam bem...”, “ele é bom...”, “só fica agressivo quando bebe...”, “é um grande pai...” Chega de justificar o injustificável. Violência doméstica deve ser crime passível de punição, não de compreensão. Cabe à justiça e aos órgãos competentes oferecer a pena e o tratamento ao agressor. Às mulheres, aos amigos, aos filhos, aos vizinhos, a todos nós cabe denunciar, evitar a morte de mulheres, estancar os gritos que ecoam entre quatro paredes.

Quem assiste a uma cena de violência e se cala ou acha normal é cúmplice. Quem adora uma filosofia de botequim e se contenta em protestar só com o falatório, mas na hora do embate escolhe “não se meter”, está contribuindo para o genocídio feminino. Essa luta não é individual, é coletiva. Não é só das mulheres, é do conjunto da sociedade. Fiquemos todos atentos aos sinais e prontos para evitar, a qualquer custo, que qualquer mulher passe por tamanho sofrimento.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação