Artigo

Diversidade brasileira em Tóquio

Como se não bastasse essa ser a competição mais equilibrada em termos de gênero — 51% dos atletas são homens e 49%, mulheres —, podemos dizer que ficará marcada por lições de tolerância e de respeito às diferenças

Sibele Negromonte
postado em 26/07/2021 06:00
 (crédito: DANIEL LEAL-OLIVAS/ AFP)
(crédito: DANIEL LEAL-OLIVAS/ AFP)

As Olimpíadas sempre foram um momento especial para mim e minha família. A cada quatro anos, costumávamos reunir os amigos para torcer por nossos atletas e brindar a vida. Imagina a minha felicidade quando, em 2016, pude, ao lado do meu marido e dos meus filhos, presenciar alguns jogos, no Rio de Janeiro. Ver o Brasil ganhar o ouro no vôlei masculino, em um Maracanãzinho fervente, é algo que guardo nas melhores lembranças até hoje.

O esporte tem esse dom de unir, agregar e trazer esperança. Por isso, a tristeza me tomou conta com a aproximação da atípica olimpíada de Tóquio: sem público, sem confraternização dos atletas e sem as tradicionais festas dos torcedores pelas arquibancadas e ruas da cidade-sede. Da minha parte, também não poder aglomerar com os amigos para ver o maior espetáculo esportivo da Terra dava uma aperto no coração.

A minha tristeza, porém, foi amenizada por notícias que chegam do outro lado do planeta. Ou melhor, transformou-se em orgulho e alegria, mesmo diante de toda a tragédia que temos vivido no último ano e meio. Como se não bastasse essa ser a competição mais equilibrada em termos de gênero — 51% dos atletas são homens e 49%, mulheres —, podemos dizer que ficará marcada por lições de tolerância e de respeito às diferenças.

Ensinamentos que vêm de atitudes como a de Paulinho, titular da Seleção Brasileira de futebol. Em um belo texto publicado no The Players Tribune Brasil, plataforma que oferece aos atletas a oportunidade de compartilhar com os fãs sua história, ele foi além disso. Falou sobre os preconceitos que as religiões de matriz africana sofrem no país e revelou o orgulho que sente do candomblé e a umbanda.

“Religião, não. Prefiro chamar de filosofia de vida. Uma coisa bem pessoal, que toca o meu coração. Sou eu comigo mesmo, entende? Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé”, disse. Paulinho também não se furtou de falar de política: “Se sou crítico do atual Governo, é porque eu confio na ciência”. E concluiu: “Como uma pessoa que tem voz, eu não posso me dar o direito de permanecer calado. De não me posicionar diante de preconceitos e negligências”.

É exatamente isso que outro atleta brasileiro tem feito, ao seu modo. De maneira descontraída e brincalhona, Douglas Souza, ponteiro da seleção de vôlei, tem conquistado fãs na internet ao mostrar os bastidores da Vila Olímpica — e, de quebra, abordar com naturalidade o homossexualidade. Único representante LGBTQIA+ em um meio tão machista, não é pouco o que o atleta tem feito.

Assumir sua orientação sexual de forma tão leve e espontânea é um ato de coragem e resistência. Em entrevista, a própria mãe dele diz se preocupar com a repercussão, porque sabe o quanto o filho já foi atacado por ser gay.

É por atletas como Paulinho e Douglas que vale a pena torcer ainda mais por nossa nação. Que Exu ilumine nosso Brasil! Nossa torcida está ON!

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação