Dia sim, outro também, o presidente Jair Bolsonaro fala sobre o tal voto impresso auditável, gasta horas do dia atacando inimigos, não economiza nas teorias golpistas e, agora, admite aprovar um fundo eleitoral de R$ 4 bilhões. Apesar da verborragia, não se ouve nenhuma palavra do chefe da nação sobre a gravíssima situação vivida pela população mais pobre, que já não tem mais o que comer. Não há nenhum sinal de uma política social consistente para tirar os milhões de brasileiros que estão na miséria, muitos morrendo de fome.
São chocantes as informações de que milhares de famílias têm feito filas nas portas de açougues para comprar “ossinhos”, ou seja, restos de carne, porque o dinheiro não é suficiente para uma alimentação mais digna. Nos supermercados, os brasileiros estão botando nos carrinhos — quando conseguem — arroz e feijão quebrados, com elevado nível de impurezas, pois os produtos de melhor qualidade não se encaixam mais em seus orçamentos. Ou é isso, ou é a fome.
Num quadro tão dramático, agravado por uma inflação galopante — especialistas ouvidos pelo Banco Central aumentaram pela 16ª semana consecutiva as projeções para o custo de vida deste ano —, nada se vê de concreto por parte da equipe econômica para aliviar a vida dos menos favorecidos, a não ser a velha política do BC de aumentar os juros. O ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que a atual administração descobriu 60 milhões de invisíveis, por meio do auxílio emergencial, mas a retórica não combina com as ações.
Era de se esperar que, ante esse momento devastador, todo o governo estivesse mobilizado para garantir o bem-estar da maior parte da população. Mas, não. A prioridade tem sido gerar crises, cujos resultados são mais instabilidade política e atrasos na retomada da atividade. Guedes alardeia que o país está saindo do atoleiro e que a economia vem se recuperando, favorecendo a criação de empregos. Apesar desse discurso, o desemprego é recorde, de quase 15% da população economicamente ativa. O crescimento do qual o ministro fala é desigual, beneficia justamente os que menos precisam.
O comportamento do governo em relação ao aumento da pobreza é semelhante ao que se viu na pandemia do novo coronavírus. Em vez de abraçar a ciência e correr contra o tempo para imunizar toda a população no prazo mais curto de tempo, preferiu propagandear o tratamento precoce com medicamentos sem qualquer eficácia contra a covid-19. Não por acaso, o país contabiliza mais de 550 mil mortos pela doença.
O descaso do governo custará caro. Assim como a forma desastrosa com que conduziu a crise sanitária derrubou a popularidade presidencial, a dificuldade cada vez maior para garantir a alimentação, mesmo que básica, pode enterrar de vez o sonho da reeleição. A população mais pobre, que é maioria nas urnas, costuma ser condescendente em vários momentos, deixa-se, inclusive, ser levada por falsas promessas. Mas, quando a parte mais sensível do corpo — o bolso — sente o baque, não perdoa.
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