OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — Questões básicas do Curupira

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 30/07/2021 06:00

Um dos muitos problemas, para todos aqueles que se posicionam nos extremos, é que, nessa situação, correm um sério risco de ficar à beira do precipício. Em caso de escolha, tendo como motivo os matizes políticos e ideológicos radicais, as chances de os indivíduos se verem lançados num abismo de irracionalidade e violência são ainda maiores. Dentro de um relativo livre arbítrio, essa é a escolha que cabe a cada um.

As consequências dessa escolha, no entanto, restarão a cada um conforme a sua posição. É da vida. Assim, é que todos aqueles que, de uma maneira ou outra, se aliaram politicamente, quer ao atual governo, quer aos governos petistas do passado, possuem sua parcela de responsabilidade por tudo de bom ou de ruim produzido nesses períodos.

Estão fora dessa lista apenas aqueles que, por interesses pragmáticos e pessoais, se juntaram a esses governos para deles colherem benefícios de toda a ordem. Para esses, não existem governos ideologicamente radicais que mereçam ser desprezados. Todos, indistintamente, rendem bons dividendos, independentemente para que lado do precipício estão em marcha.

Trata-se, exatamente, do grupo aglutinado conhecido como Centrão, uma ninhada degenerada da espécie Curupira brasiliense, que, com os pés virados para trás, finge seguir ora à direita, ora à esquerda, marchando, na realidade, na única direção em que sabem ir: os cofres públicos. A questão é compreender a razão de, no entra e sai de mandatários eleitos, como esse grupo permanece intocável e acolhido no seio desses governos, sempre em cargos estratégicos, que lidam diretamente com grandes somas de recursos públicos.

Seria esse grupo formado por especialistas nas intrincadas ciências contábeis da gestão pública e financeira? Obviamente, não. Muitos deles, quando muito, se limitam a desenhar o nome sobre uma folha de papel. Essa verdadeira vanguarda do atraso vem aproveitando ao máximo, e há anos, as brechas escancaradas do nosso esdrúxulo modelo de presidencialismo de coalizão, que faz com que todo e qualquer presidente só possa governar, de fato, com o apoio desse grupo no parlamento.

Surge outra incógnita: por que esse grupo, que constantemente age na contramão dos princípios mais básicos da ética pública e sobre o qual pesam sérias denúncias de crimes de corrupção, está sempre com cadeiras cativas no Congresso? Algumas explicações estão em suas bases eleitorais, sempre bem irrigadas com os recursos públicos que conseguem extrair desses apoios pragmáticos. Outras explicações vêm do fato de que, nesses redutos, o aliciamento e a compra de votos correm soltos, bem como as maquinações políticas, feitas à meia-luz, e que permitem a perpetuação desses grupos, num ciclo vicioso e, obviamente, prejudicial à nossa democracia.

Nesse ponto, mais uma questão se abre: por que os diversos governos de diversas orientações ideológicas e que sempre prometem correção e combate aos atos de corrupção, acabam sempre se aliando com grupos dessa natureza? A resposta poderia vir, resumidamente, quando se verifica que todos os governos, de uma maneira ou de outra, têm uma identificação ética com esse grupo, não se observando quaisquer dissemelhanças.Outras razões podem ser encontradas na certeza da impunidade e no fato notório de a Justiça jamais ter alcançado esse grupo, que segue impávido e influente.

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