A cada quatro anos — desta vez, com um intervalo de cinco, por causa da pandemia —, os Jogos Olímpicos nos levam a exaltar heróis brasileiros do esporte, muitos dos quais improváveis, surgidos de uma combinação de talento, esforço pessoal, superação de dificuldades e até do acaso, do surgimento de oportunidade para uma criança carente, mostrando que o apoio à prática esportiva pode e, de fato, tem sido efetivo na multiplicação de atletas de ponta e medalhas olímpicas.
Um exemplo cabal disso já tinha ocorrido em 2016, nos Jogos do Rio de Janeiro, quando a judoca Rafaela Silva, de menina pobre, da favela Cidade de Deus, alcançou o pódio, graças a uma chance que a alçou ao esporte de alto rendimento no Instituto Reação, mantido pelo ex-lutador de judô Flávio Canto, justamente para acolher crianças e jovens carentes com potencial para o esporte.
Agora, nas Olimpíadas de Tóquio, novos expoentes do Brasil se destacam, alguns de forma parecida. A história da ginasta Rebeca Andrade revela que, para encantar o mundo no Japão, antes, ainda bem menina, filha de uma doméstica, teve a chance de que precisava em um programa de iniciação esportiva da Prefeitura de Guarulhos (SP). Quando faltava o dinheiro do ônibus, chegava a caminhar duas horas por dia para ir ao ginásio treinar. Já o campeão olímpico do surfe Ítalo Ferreira pegava ondas com tampas de caixas de isopor do pai, vendedor de peixe em Baía Formosa (RN), até conseguir a primeira prancha, que o catapultaria aos títulos e à fama.
São apenas alguns de muitos exemplos que ressaltam a necessidade de investir na formação de atletas. A preparação para os próximos Jogos, de Paris’2024, começa agora e terá de ser agilizada, em um ciclo olímpico encurtado para três anos, devido ao adiamento forçado do evento japonês. Uma das providências recomendáveis seria reforçar a ampliar o alcance do Bolsa Atleta, programa do governo federal que contempla esportistas com potencial de alto rendimento.
Atualmente, são cerca de 7,2 mil beneficiários, com valores mensais que variam de R$ 370 (atleta de base e estudantil) a R$ 5 mil e R$ 15 mil (olímpicos e paralímpicos). Para se ter uma ideia da importância, 80% dos cerca de 300 competidores brasileiros em Tóquio são bolsistas. Houve proporção semelhante no Rio’2016, quando do recorde de 19 medalhas. A única modalidade que não tinha bolsistas foi o futebol (levou o ouro).
Seria interessante, então, no embalo das emoções de Tóquio, ampliar o raio de ação do programa e reajustar o valor das bolsas, o que não ocorre desde 2010, além de aumentar os incentivos para que as empresas patrocinem atletas e modalidades esportivas. A qualificação dos treinamentos é mais um desafio. E pode minimizar frustrações, como a de Altobeli Silva. Finalista nas Olimpíadas do Rio e ouro no Pan de Lima’2019 nos 3 mil metros com obstáculos, ele ficou em 10º lugar na eliminatória e não se classificou no Japão, mesmo tendo cumprido longo e intenso período de treinos.
Para o desenvolvimento do atletismo e de outras modalidades, mas pensando à frente dos Jogos de Paris, a prazo bem mais longo, o Brasil deveria, também, dotar as escolas públicas de ensino básico de equipamentos e profissionais para um trabalho sério de educação física, capaz de garimpar e encaminhar atletas-mirins para a formação de excelência.
O Brasil tem dimensão e potencial para ser, no futuro, potência em Olimpíadas. Nos esportes mais estruturados e profissionalizados, como futebol e vôlei, o país é referência mundial. Resta, então, investimento planejado em outras categorias, para colher novas safras de campeões e medalhistas olímpicos.
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