Visto, lido e ouvido — As janelas quebradas da capital

Desde 1960

Circe Cunha (interina)
postado em 11/08/2021 06:00

Desde os anos 1960, o filósofo de Mondubim dizia que a desordem conduz, obrigatoriamente, à desordem. Esse é um tema conhecido de todos aqueles que observam as interações sociais, sobretudo, em uma cidade populosa, onde a aglomeração de pessoas tem reflexos diretos na qualidade de vida de todos indistintamente. Não duvide: as atitudes de seu vizinho ou o que é feito em bairros limítrofes ao seu, tudo possui o poder de repercutir em ações visíveis ou invisíveis na sua própria rua. E tudo será capaz de alterar, significativamente, a qualidade de vida em sua comunidade. O todo está intrinsecamente conectado, numa rede viva e dependente.

O experimento Teoria das Janelas Quebradas, desenvolvido pelos pesquisadores da Escola de Chicago, nos Estados Unidos, James Q. Wilson e George Kelling, demonstrou, naquela época, que um carro abandonado em um bairro de classe rica ou pobre tem mais possibilidade de ser vandalizado ou mesmo furtado, caso uma de suas janelas esteja quebrada. O mesmo ocorre em edifícios, onde as janelas ou partes dele estejam danificadas por um tempo e não passem por pronta manutenção. Logo, esse prédio começa a ser depredado, invadido, passando, em pouco tempo, a se constituir em local de moradia de desocupados, sem tetos ou de usuários de drogas .

A partir desse ponto, toda uma série de crimes passam a ocorrer, afetando não só a população que por ali circula, mas outros pontos da cidade. Exemplo desse fenômeno pôde ser confirmado no antigo Torre Palace Hotel, próximo à Torre de TV que, a partir de 2014, desencadeou uma série de acontecimentos negativos e perigosos, não só para o Setor Hoteleiro Norte, onde se localizava, mas para toda a área adjacente. A situação chegou a um crescendo que foi necessária uma estratégia de guerra para esvaziar o local, com a utilização de helicópteros e de um conjunto de forças de segurança, jamais vistas para desocupar o imóvel. Isso depois de muita reclamação, muitos crimes e prejuízos para o turismo, uma vez que a edificação está localizada no Setor Hoteleiro. A imagem de capital moderna acabava por ali.

O mesmo ocorre hoje na conhecida Cracolândia, fincada bem no centro de São Paulo, gerando problemas que nenhum governo foi capaz de sanar nesses últimos anos. O Setor Comercial Sul também tem a sua Cracolândia, sendo formada bem debaixo dos olhos das autoridades e representando um enorme prejuízo para toda essa antiga e ainda valorizada área da cidade. As W3 Norte e Sul, depois da consolidação do modelo dos shoppings fechados, foi perdendo sua importância ao longo dos anos, com muitas lojas sendo fechadas e abandonadas.

A deterioração paulatina dos edifícios nessa localidade confirma a Teoria das Janelas Quebradas, demonstrando que a falta de zelo e principalmente de fiscalização pelos órgãos encarregados desse serviço, serviram para aumentar, além da decadência física do local, um atrativo a mais para moradores de rua, viciados e criminosos de todo o tipo que trafegam nessas áreas de dia e de noite.

Nesse particular, a W3 Norte tem sofrido, sobremaneira, nas últimas décadas, tanto os efeitos da pouquíssima fiscalização pelos órgãos de segurança e vigilância, quanto dos serviços de postura e de engenharia que, simplesmente, deixaram de olhar para essa importante parte da cidade.

Outra ilustração clara e oposta à teoria da Janela Quebrada são as estações de metrô da capital. Todas impecavelmente limpas e organizadas e mantidas assim pela população que, instintivamente, é levada ao desejo de preservação.

Com o desleixo das autoridades em relação aos imóveis da W3 e entrequadras e, seguindo a Teoria das Janelas Quebradas, os proprietários dos imóveis passaram a agir e a construir seus puxadinhos à margem do que mandam os códigos de postura e de padrões urbanos, quer expandindo para as áreas públicas seus estabelecimentos comerciais, quer erguendo horripilantes terraços sobre as antigas edificações, não obedecendo questões de gabarito ou mesmo de sobrecargas.

Como resultado desse descaso há poucos dias um prédio praticamente inteiro na Quadra 713 veio abaixo. Por sorte, não provocou mortes. Agiriam corretamente as autoridades se, depois desse sinistro e de outros que vêm ocorrendo com certa frequência, mandassem demolir esses andares extras e todas essas obras ilegais, para o bem da população e para o futuro da cidade.

Seguindo o que orienta o Código de Postura Urbana, seria possível frear a decadência dessas vias de comércio. O que ninguém pode permitir, em nenhuma hipótese, é que sejam os próprios donos dessas edificações, com a omissão da fiscalização, os responsáveis diretos por esses crimes contra a cidade e o futuro dos brasilienses.

 

História de Brasília

O governador Leonel Brizola chegou ontem pelo Viscount. No mesmo aparelho, viajou, também, o sr. Ranieri Mazzilli, que era o presidente da República à época da Campanha da Legalidade.
(Publicada em 6/2/1962)

 

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