opinião

Artigo: Rompam com os grilhões

Rodrigo Craveiro
postado em 11/08/2021 06:00


Luiz Carlos da Silva, de 56 anos, está de cueca, grita e chora. “Eu roubei alguma coisa nessa loja, caramba? Eu vim aqui pra comprar alguma coisa e me chamam de ladrão! Olha aqui! Tem alguma coisa aqui? Tem alguma coisa aqui?”, revolta-se, diante de dois seguranças de uma rede de atacadistas. Luiz Carlos é negro. Fosse branco, muito provavelmente, não passaria por essa humilhação. Nem sequer teria sido abordado. Morador de Vicente Pires, Bruno Henrique Dias Gomes, 25, foi alvo de racismo dentro de um voo, depois que um comissário de bordo insinuou que um carrapato havia caído do cabelo afro do passageiro. Bruno é negro. Fosse branco, talvez não ouviria tamanho absurdo. Nem seria desrespeitado por ser quem é.

Luiz Carlos, Bruno e milhões de outros brasileiros são vítimas do racismo no Brasil. A escravidão foi abolida pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888. Já se passaram 133 anos desde que os grilhões físicos foram rompidos, mas os negros continuam acorrentados à ideia idiota de superioridade racial branca, à arrogância digna dos supremacistas e extremistas. Todos os dias eles são vítimas de preconceito, têm a dignidade violada apenas pelo tom da pele. Todos os dias são alvos de olhares tortos, de palavras que fuzilam a alma. São os negros criticados por usarem o elevador social, questionados pela ascensão social, tachados de suspeitos de roubo no comércio, vítimas do famoso baculejo da polícia.


Por trás do racismo escrachado, existe aquele institucionalizado, chancelado pelo sistema político-econômico do Brasil. Os negros ainda são maioria nas favelas. São os que mais morrem pela violência policial. São os que mais choram a morte de suas crianças, após o trágico encontro com a bala perdida enquanto brincam nos becos de comunidades carentes do Rio de Janeiro. Na última década, houve um aumento de 33% no número de pessoas negras assassinadas no Brasil, onde mais de 64% dos desempregados são negros.

A Luiz Carlos, a Bruno e a milhões de outros brasileiros devemos nossas desculpas por fracassarmos nas políticas de igualdade racial. Mas, também, pelo comportamento dantesco normalizado por muitos brasileiros. Devemos romper com os grilhões do racismo. Simplesmente varrer o preconceito para debaixo do tapete não é o bastante. Temos a obrigação de construir uma sociedade justa, fraterna e, sobretudo, igualitária. Que absurdos como os citados no início do texto estejam com os dias contados. Que a negritude seja reverenciada neste país de tanta diversidade e beleza.

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