Memória

Tarcísio, Paulo José, eu e você

A gente se acostumou a chamá-los pelo primeiro nome. Não é qualquer um que consegue tamanha intimidade com milhões de pessoas

Ana Dubeux
postado em 15/08/2021 06:00
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

A gente se acostumou a chamá-los pelo primeiro nome. Não é qualquer um que consegue tamanha intimidade com milhões de pessoas. Tarcísio, o Meira, o Tarcísio da Glória, não é apenas um ícone da dramaturgia. Nem Paulo José. Continuam sendo reis em terra de gigantes. E continuarão sendo mais do que isso. São a própria arte e o que ela é capaz de fazer pelo ser humano.

A arte anima a vida e permanece na morte. Em nossas memórias, passam os filmes, as novelas, as personagens que acompanhamos com entusiasmo. Tarcísio e Paulo foram nossos companheiros, viveram nossos dramas e comédias, nos levaram ao riso e às lágrimas, nos emocionaram tantas vezes. Sejamos muito gratos pelo legado e lutemos para honrar suas histórias.

Assim como eles, tantos outros artistas, perdas recentes para a covid-19 ou para outros males, ficarão na nossa memória afetiva para todo o sempre. A biografia deles, inclusive suas vivências nos palcos, dignifica um país de cultura combalida. Nós podemos amar a arte, a história e a memória de pessoas que passaram a vida se dedicando a desempenhar um papel importantíssimo no Brasil, mas não podemos esquecer o quanto a cultura nacional está combalida e maltratada.

O governo Bolsonaro só aceita o torpe teatro de bonecos, escrito e dirigido por ele mesmo, que encena o texto mais triste desse espetáculo grotesco, que se tornou o mandato presidencial. Cinemateca destruída; prédios históricos ameaçados; patrimônio abandonado; falta de incentivo; ataques à classe artística; censura a manifestantes e a exposições. Um triste enredo para um país tão rico e diverso, cheio de talentos pouco valorizados.

Assistimos a um desrespeito atrás do outro ao que há de mais caro no Brasil: a arte. Não são a arte, a cultura e a educação que deslocam as estruturas de uma nação? Que chacoalham nossos ossos e nos põem para dançar? Que nos provocam a reflexão? Que nos induzem a criar, a fazer, a pensar? Sem isso, morre também a esperança de dias melhores.

Temos alguma sorte, é claro. O governo passa; a arte fica. Ela e todos que a servem têm seu lugar cativo na história. São perenes. Costumamos dizer que quando morrem nossas estrelas, as que nos acostumamos a chamar pelo prenome, o céu fica em festa. Talvez, quem vai saber. Por aqui, ficamos apenas consternados com tantas perdas.

Viveremos com Tarcísio, Paulo José, Paulo Gustavo e tantos outros por muito tempo, porque eles merecem ocupar espaço na nossa memória. Sobre quem nos governa, podemos simplesmente escolher esquecer. A coxia tem gente melhor esperando para entrar em cena.

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