De tempos em tempos, cada vez com mais frequência, a falta de humanidade se revela sem filtros. As imagens da fuga desesperada do povo afegão e de tantos estrangeiros que estavam em missões por aquelas terras são um açoite à nossa pretensão de sermos humanos. Sim, digo pretensão. Porque são flagrantes e planetários os exemplos de falência da nossa condição de ser um coletivo que habita esta Terra em harmonia e com respeito.
Desrespeitamos o meio ambiente, negligenciamos crianças, matamos mulheres, escravizamos negros, barramos refugiados e surrupiamos índios, violentamos quem decide seguir outra orientação sexual e esvaziamos o prato de quem precisa comer. Tragédias humanitárias ocorrem em todo o planeta. Aqui e do outro lado do mundo. Guerras, catástrofes e sandices colocam a humanidade em xeque.
Assistir a pessoas penduradas num trem de pouso de avião em corrida desesperada para fugir de seu próprio país traz a conclusão mais óbvia: falimos. Como humanidade, secamos. Somos deserto. Com um ou outro oásis no meio do caminho para lembrar que ainda somos, com alguma sorte, também vida. Puxando para a margem, há sim exércitos de ajuda humanitária que fazem todos os esforços para lembrar que salvar vidas ainda faz sentido. Mas é pouco, muito pouco.
A história está cheia de imagens que contam nossos fracassos. Eu me lembro de uma foto antiga, um morto carregado num carrinho de mão favela abaixo depois de ofensivas policiais num morro do Rio. A discussão, na época, era se aquela imagem numa capa de jornal não causaria indigestão aos leitores em pleno desjejum.
A foto foi publicada. E daí? Todas as imagens chocantes que se sobrepõem dia a dia às outras, como o corpo de uma criança síria achado numa praia turca ou a foto-símbolo da menina correndo nua na guerra do Vietnã, viram peças de uma galeria que felizmente servem de registro para a história, mas, infelizmente, não transformam o futuro.
Não sou pessimista, nunca fui. Acredito ainda na humanidade que resiste e insiste. Mas andorinhas solitárias não fazem verão. É preciso um olhar mais amplo, enxergar mais longe, pegar mais firme na mão de quem precisa. Confio na geração dos meus filhos e da minha neta para termos, como diz a música de Cazuza, “um museu de grandes novidades”. O mundo está triste demais.
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