Para um país que, ao longo da maior parte de sua história, nunca deu a devida atenção à educação e ao ensino público de qualidade, assimilar lições e torná-las práticas usuais do cotidiano é também uma tarefa difícil, senão impossível. Reter lições do passado e do presente é fundamental para evitar o cometimento dos mesmos erros e ter alguma previsibilidade quanto ao futuro. E é também uma das lições que se prende nas escolas.
Com isso, fica evidente que um povo devidamente instruído não se torna presa fácil nas mãos dos prestidigitadores políticos, muito menos se deixa levar pelos discursos encantatórios de demagogos e populistas da hora. Ensinar a pensar, talvez, seja a primeira e mais importante missão que cabe à educação.
A segunda, talvez, seja ensinar a pensar de modo próprio, depois de perscrutado o ambiente em volta. Sem essas premissas, um povo se torna alvo fácil para a investida dos chamados “peritos em habilidades”, os mascates de vãs esperanças.
Essa, talvez, seja a principal característica que falta à média dos cidadãos deste país, sobretudo aos eleitores. O que a prática demonstra é que, desde a redemocratização, não parece haver sinais de que o eleitorado venha aprendendo com as seguidas eleições. E isso é ruim, pois traz reflexos negativos para toda a nação, mesmo para aqueles que dizem desprezar a política. Pelo menos é o que as atuais urnas mostram.
No embate em que nos vemos metidos agora, açulado de modo proposital pelo chefe do Executivo, contra parte das altas cortes do Judiciário, o que se diz “briga de cachorro grande” deveria render lições proveitosas para a elevação na qualidade de nossa democracia.
Não basta a um Estado ser democrático, é preciso que essa democracia tenha um mínimo de qualidade. Ocorre que essa melhoria na qualidade só pode advir de eleitores cônscios de sua importância nesse sistema. Ou a população aprende com erros cometidos por seus representantes, banindo-os, definitivamente, da vida política, ou estaremos fadados a experienciar crises e mais crises, com efeitos danosos sobre todos.
É nesse contexto que se insere a atual crise, gestada no Palácio do Planalto e ampliada no Supremo. Trata-se de uma contenda em que nenhuma das partes tem razão. Fôssemos julgar essa querela atual à luz da racionalidade e dos episódios que foram se sucedendo num crescendo insano, o veredito, por certo, levaria à condenação de ambas as partes. Apenas à guisa de exemplo, tomemos a faxina ou o remendo feito, à meia-sola, no currículo de Lula, de forma a torná-lo apto a concorrer às próximas eleições.
De cara, trata-se, aqui, de um acinte contra o cidadão de bem e uma violação contra a própria democracia. Caso a população não entenda, de uma vez por todas, que o desmanche forçado da Operação Lava-Jato, com a bênção do presidente Jair Bolsonaro, foi um atentado contra a democracia e um crime de lesa-pátria, mais uma vez estaremos sendo impelidos a repetir erros sérios.
É esse upgrade que nos falta e que só poderá vir por meio das boas escolas públicas e de um ensino que leve o brasileiro a reconhecer, em qualquer ocasião, o valor preciosíssimo de uma democracia de qualidade, em que a razão suplante a emoção.
A frase que não foi pronunciada
“Por falar nisso, o finado Bruno Maranhão arrebentou o Congresso Nacional. O que aconteceu com ele?”
Dona Dita, enquanto tricota
Ordem e progresso
» Se existe um colégio que desperta a ira dos maus professores e administradores escolares é o Colégio Militar. Primeiro, porque as crianças que o frequentam são educadas em casa, só vão para a escola pela instrução. Segundo, porque, em qualquer olimpíada de conhecimento, o Colégio Militar é imbatível. Essa ira de alguns deveria se transformar em humildade para copiar a fórmula. Essa celeuma sobre a filha do presidente estudar no Colégio Militar é inútil. A escola é ótima, e quem pode, pode.
Divulguem
» Veja no Blog do Ari Cunha as obras da afegã Shamsia Hassani. Descreve bem a situação da mulher no atual Afeganistão. As fotos foram enviadas para um grupo de jornalistas pelo colega Fernando Ladeira. Veja, também, como seguir a artista no Instagram.
À flor da pele
» Uma das sequelas dessa fase pandêmica é a falta de paciência de pais que não estavam acostumados a conviver com os filhos. Outro dia, uma mãe, gritando com o pequeno, o obrigava a colocar a máscara antes de entrar no carro. É o mesmo que obrigar alguém a passear a pé atado em um cinto de segurança.
História de Brasília
No supermercado, UV-1 faltavam, ontem: cebola, carne, batata, verdura, arroz e álcool. Muitos outros produtos faltavam, igualmente. Estes, porém, são de um rol de uma dona de casa.
(Publicada em 07/02/1962)
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