opinião

Visto, lido e ouvido — Patriotismo sem ética

Desde 1960

Circe Cunha (interina)
postado em 27/08/2021 06:00

Caberá à história, no tempo próprio, repor, em seus devidos lugares, os muitos erros perpetrados por políticos, ministros e magistrados contra o ex-juiz Sergio Moro. A única questão é saber se isso ocorrerá, ou não, a tempo de corrigir os danos causados ao magistrado de Curitiba, por ter ousado enfrentar os mais poderosos grupos instalados nas mais altas esferas do Estado.

Em um país onde, tradicionalmente, as punições da Justiça são aplicadas em doses inversamente proporcionais ao status do acusado, não surpreende que aqueles que deveriam estar sob a camisa de força apertada de réus enverguem a fantasia de promotores e de impolutos republicanos. De fato, mesmo depois de “cancelado” e moído pela máquina perversa de um Estado dominado, de alto a baixo, a sombra do ex-juiz ainda amedronta e causa calafrios aos corruptos e malfeitores de todos os calibres, perturbando-lhes o sono noturno.

Para tanto, é preciso não apenas atalhar o caminho, mas conceber, de imediato, leis ilegítimas e extrajurídicas, de modo a vetar quaisquer possibilidades de que ele venha a reaparecer, como uma espécie de vingador instalado no mesmo Palácio do Planalto de onde se retirou, depois de sentir o mau cheiro exalado naquele lugar.

O temor daqueles que têm a ética pública, como antípoda, é de que a população, num rasgo de racionalidade, sagre Moro nas urnas no ano que vem. De que outro modo, então, explicar o afinco com que os próceres da nova direita e da esquerda de sempre tecem, como centopeias, o que chamam, cinicamente, de novo projeto de reforma eleitoral.

Na verdade, de novo esse projeto só tem a astúcia e os mesmos maneirismos espertos, tecidos na surdina. O novo Código Eleitoral, em tramitação na Câmara dos Deputados, ao incluir, na undécima hora, dispositivo que cria uma quarentena de cinco anos para que juízes, militares e promotores possam concorrer às eleições, atende justamente aqueles que, por vingança e despeito, querem tirar o ex-juiz do páreo em 2022.

Para fugirem das interrogações que viriam, foi proposto até o instrumento maroto de regime de urgência, fugindo do escrutínio das comissões. Ficaria mais adequado e direto o tal projeto eliminar, logo de saída, toda possibilidade de candidatura de uma possível terceira via, que venha a ameaçar as pretensões de Bolsonaro e de Lula para o próximo ano. Experimentamos tempos estranhos e adversos, contrários ao bom senso e aos mais comezinhos conceitos de ética e de República. Fala-se muito em patriotismo, mas esquecem que essa é uma premissa que vem somente depois de respeitadas todas as exigências impostas pela ética.

Patriotismo sem ética refere-se apenas a um lugar onde podem amaciar, com segurança, os de sempre. Do mesmo modo, falar em retorno do lulopetismo, para salvar o país e suas estatais da sanha privatista, soa como escárnio e pesadelo.

O que acontece com o ex-juiz Sergio Moro ocorreu na Itália com o ex-juiz Antonio Di Pietro e com o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón. Todos foram vítimas daqueles que deveriam estar condenados e presos, mas que, por um estranho fenômeno que parece pairar sobre todos nós de ascendência latina, dá aos poderosos e aos seus grupos o cetro da lei e aos operadores legítimos da Justiça, o opróbrio e a desfeita.

A frase que foi pronunciada

“A Suprema Corte decidiu que eles não podem ter um presépio em Washington DC. Isso não foi por motivos religiosos. Eles não conseguiram encontrar três homens sábios e uma virgem.” Jay Leno

Erramos

» Na coluna de ontem, ENE foi escrito Enem.
Só o título estava certo. Nossas escusas aos leitores.


Curiosidade

» Pergunta de uma leitora provoca curiosidade. Todos os parlamentares que compõem a CPI da Covid já foram vacinados?


Insistência

» Amigo nos alerta sobre manifestação em frente à embaixada brasileira em Praga contra incêndios na Amazônia. Deve ter sido um fiasco, porque não ganhou uma linha nos jornais internacionais.


Conectas

» Por falar nisso, a Revista Internacional de Direitos Humanos publicou um edital para escritoras negras e indígenas e paga R$ 5 mil para textos sobre questões atuais como pandemia, direitos humanos e povos originários. Veja no Blog do Ari Cunha.


Desvio de função

» Tem muita hipocrisia sobre a segregação de alunos com deficiência em salas de aula. É impossível uma professora em uma turma com mais de 30 crianças dar atenção necessária à criança especial. Nesse caso, a contratação de monitores é indispensável.

História de Brasília

Isto porque, se não for inaugurada logo, a Novacap construirá a definitiva, na área verde, entre a 108 e 508, e a primeira creche da cidade que entusiasmou o aluno passará para a história como sendo a única creche que não funcionou.


(Publicada em 7/2/1962)

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