opinião

Visão do Correio: Água - lições que não aprendemos

Correio Braziliense
postado em 01/09/2021 06:00

A crise hídrica que se abate sobre os reservatórios de algumas das principais hidrelétricas nacionais e já faz autoridades e especialistas olharem com preocupação para mananciais de abastecimento revela um país que não aprende com seus erros. Dono de cerca de 12% das reservas de água doce superficial do planeta, segundo a agência reguladora do setor, e tido como a “Arábia Saudita da água”, o Brasil usa mal um recurso que é precioso não apenas para a saúde da economia, mas de sua própria população, e trata o que já não é tão abundante como se fosse inesgotável.

O colapso que em 2014 atingiu várias populações país afora — com uma crise de abastecimento que fez cidades usarem volumes mortos de seus reservatórios e usinas se arriscarem a perder unidades de geração — parece não ter deixado grandes lições. Se obras foram feitas para garantir mais segurança em sistemas urbanos de abastecimento, o aspecto principal jamais foi encarado como deveria e exige: com preservação, mas antes de tudo com recuperação ambiental e conscientização.

Mananciais que poderiam ser fontes de lazer e preservação da vida se transformaram em enormes valões de esgoto, que apenas cospem para populações rio abaixo, em último caso para o mar, os dejetos urbanos, como se a correnteza fosse capaz de fazê-los evaporar. As poucas estações de tratamento de esgoto existentes constituem exceções que mal disfarçam a regra: desprezamos nossa riqueza hídrica, transformamos em problema o que deveria ser solução e nos acostumamos a achar isso normal.

O resultado aparece nas contradições de metrópoles que lutam para conter inundações na estação das chuvas, enquanto temem enfrentar sede e apagões na estiagem. E em uma sociedade que segue esperando que a solução caia do céu em forma de chuva, para continuar se servindo de uma matriz energética majoritariamente dependente do recurso tão maltratado, ao mesmo tempo em que vê a devastação de ecossistemas avançar sem freio.

As crises hídrica e energética são irmãs siamesas. O diagnóstico parte do médico e ambientalista Marcus Vinícius Polignano, secretário do Comitê de Bacia do Rio das Velhas, em Minas Gerais. Ele chama a atenção para a prática recorrente de sugar reservatórios à exaustão, sempre na dependência da meteorologia para que se recuperem — um convite ao desastre, especialmente em tempos de mudanças climáticas.

De Alagoas, o jornalista e ambientalista Anivaldo de Miranda Pinto, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, complementa o alerta: “Infelizmente, por falta de planejamento estratégico e vontade política, o Brasil não fez o dever de casa de se preparar para este século de agravamento do aquecimento global”.

Enquanto as advertências soam e as evidências se multiplicam, autoridades parecem mais uma vez correr para apagar o incêndio da crise com a pouca água que resta, tratando como momentâneo problema que se mostra estrutural. E, no atual cenário, enquanto a indústria bate recorde de consumo de energia, a imposição de mais uma sobretaxa nas tarifas por “escassez hídrica” é a resposta da ocasião. A conta, um ônus de 6,78% na tarifa média, vai para o consumidor.

Investir em produção de água via recuperação de ecossistemas, em desenvolvimento sustentável que possa se aliar à preservação, em punição às infrações à legislação ambiental e em conscientização são medidas que já não se podem fazer esperar. Não resolverão a crise atual, mas não adotá-las fará com que o país continue a aguardar a estação chuvosa seguinte como não mais que um refresco até o próximo — e cada vez mais grave — colapso.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Sr. Redator

Cartas ao Sr. Redator devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome e endereço completo, fotocópia de identidade e telefone para contato. E-mail: sredat.df@dabr.com.br

Inflação
O Correio (31/8) informa que o IGP-M recuou 0,12% em agosto, na comparação com o mês anterior. Trata-se de uma informação equivocada, que faz confusão entre o índice e a inflação. Depois diz que o índice variou 0,66%, ou seja, na verdade, ele aumentou. O que ocorreu foi que o índice cresceu menos do que em julho, que foi de 0,78%, mas cresceu. Ou seja, os preços em agosto cresceram menos, mas cresceram, e o índice, na verdade, aumentou mais 0,66%, acumulando 1,4% nos dois meses. Trata-se de um equívoco comum, que não deve iludir os consumidores, pois sua renda real caiu ainda mais. O índice é um número absoluto, que vai acumulando os aumentos dos preços. Vamos supor um índice igual a 100. Se os preços crescem 1%, o índice vai para 101. Se, no mês seguinte, os preços crescerem de 0,5%, o índice vai para 101,50, ou seja, o índice aumentou, embora a inflação tenha caído. Ficamos ainda mais pobres. O mesmo ocorre com os índices de desmatamento. Quando o governo, eventualmente, informa que o desmatamento caiu, na verdade ele aumentou, embora em ritmo menor do que um determinado período anterior, mas mais árvores foram abatidas.
Hélio Socolik, Lago Sul


Negacionismo
A população mundial em 1950, ano da Copa do Mundo no Maracanã, de triste memória, era de 2,5 bilhões de pessoas. Em dezembro de 2020, saltou para 7,8 bilhões de almas. Nesse curto espaço de tempo de 70 anos, levando-se em conta a idade de nosso planeta, quantas fábricas entraram em funcionamento poluindo nosso clima? Quantos automóveis foram fabricados e estão rodando no mundo todo? Quantas usinas nucleares estão funcionando? Quantos fenômenos meteorológicos aconteceram? Quanto degelo houve nas calotas polares? Quanta seca aconteceu e quantas queimadas houve em florestas de vários países? E ainda existe gente negacionista que declara que esses fenômenos catastróficos são uma invenção, uma falácia. Como é que pode? Não acreditam e duvidam das palavras de cientistas e estudiosos do mundo inteiro, que afirmam que caminhamos para o caos e entregaremos para as gerações futuras um planeta arrasado, se não forem tomadas medidas urgentes a respeito. Não basta termos que aturar negacionistas quanto à pandemia que assola o mundo inteiro, temos, agora, que conviver com negacionistas que negam a existência de problemas com o nosso clima, declarando que as palavras dos cientistas são mentirosas. Simplesmente lamentável!
Paulo Molina Prates, Asa Norte


Perna de pau
O presidente pretende induzir que age corretamente em suas atitudes, enquanto Executivo, e que o Judiciário age errado, apegando-se sempre ao clichê “dentro das quatro linhas da Constituição”. Uma alusão às regras do futebol limitadas nas quatro linhas do campo. Ora, bolas, nessas regras, quem fica dando traulitadas a torto e a direito, e pode ser até o capitão, está passivo de ser expulso pelo juiz, supremo dentro de campo. O que, aliás, deveria ter recebido cartão vermelho há muito tempo. Jogador desleal nas entradas, ele pode muito bem ser xingado em coro pela torcida com expressão de calão, como aquela em que descompôs a mãe do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso. Pênalti? Só chuta a bola pra fora. A regra é clara, e o VAR sempre o denuncia com seus impedimentos querendo avançar ilegalmente a linha democrática do jogo. A bola é o motivo do jogo, mas ele não regula bem dela. O veredicto é atilado: a pátria de chuteiras não aceita perna de pau.
Eduardo Pereira, Jardim Botânico


Precatórios
O governo quer alterar a Constituição para parcelar os precatórios, alegando, como justificativa, que não tem dinheiro para pagar o auxílio emergencial, que é uma espécie de Bolsa Família provisória, que só causa insatisfação pela precariedade de seu valor. Enquanto isso, não observa que um só deputado federal causa um prejuízo de R$ 3 milhões de reais por ano e nada produz. Isso, multiplicado por 513, causa um o rombo nos cofres públicos R$ 1,539 bilhão por ano. Os 81 Senadores recebem como salário e gastam R$ 486 milhões por ano. As eleições de 2022 vão custar aos cofres públicos R$ 2,1 bilhões. Não quer entender que o valor dos precatórios refere-se a dívida de até 20 anos e esses valores são aumentados pelos inúmeros recursos feitos pela União, para procrastinar os pagamentos e o pior, entupindo a Justiça de processos. No caso do Distrito Federal, parece que os precatórios nem existem. Agora, o governador inventou, no final do mandato, de construir um viaduto, no Epig, ligando o Parque da Cidade à Ortogonal, ao Cruzeiro e a outros setores adjacentes, com gastos de bilhões, enquanto isso os hospitais estão caindo aos pedaços e falta tudo. Tem mais de 40 mil pacientes esperando cirurgia, suportando dores e até morrer, e o governador só promete. Resumo: obras dão votos, mas a saúde do povo é prioridade. Quem vai pagar a dívida do Epig?
José Lineu de Freitas, Asa Sul

Desabafo

Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição

Os jogos paralímpicos dão belos exemplos de respeito às diferenças, inclusão e superação.
Itiro Iida — Asa Norte


Ei, turma do fuzil! Para se dar bem nessa peleja, que tal mirar num barril e acertar em cheio uma boa cerveja?
Marcos Paulino — Águas Claras


O Brasil sempre começando: depois do carnaval, depois de 7 de setembro.
Marcos Gomes Figueira — Águas Claras


Fechar praia é para garantir privacidade ou isolar político do povo?
José Matias-Pereira — Lago Sul


Enquanto a nossa capital sofre com muitos problemas, Ibaneis se preocupa mais com o time dele. Venha logo 2022, para o próximo governador acabar com esse patrocínio.
Sebastião Machado Aragão — Asa Sul

 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação