As tensões provocadas pela crise institucional consomem esforço que poderia estar concentrado na discussão de medidas para estimular a recuperação da economia, além de terem chegado a um limiar perigoso do ponto de vista das relações comerciais do Brasil e sua capacidade de atrair investimentos. Ontem, o IBGE divulgou queda da produção industrial em julho, que forçou retração de 2,1% do nível de atividade do setor ante o patamar anterior à pandemia de covid-19. A retração de 0,1% do PIB no segundo trimestre do ano interrompeu rota de nove meses de crescimento.
A baixa de ânimo das previsões de expansão do país e problemas decorrentes do ambiente político preocupam. Embaixadores de nações da América do Sul disseram, em conversas reservadas com o Correio Braziliense, dos Diários Associados, temer a perda de iniciativas caras à região diante dos riscos à estabilidade da democracia brasileira.
Um dos projetos importantes é o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, com previsão de gerar aumento de US$ 87,5 bilhões do PIB do Brasil em 15 anos, segundo estimativas da equipe econômica. Se a proposta já enfrentava resistências devido ao ritmo de devastação recorde que vem sendo observada na Amazônia, tende a ser abandonada pelas nações do velho continente em caso de ruptura institucional.
Com sua larga experiência nas relações diplomáticas, Rubens Barbosa, ex-embaixador em Londres e Washington e atual diretor-presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, afirma que tanto os líderes das nações quantos os investidores têm adotado muita cautela em relação ao país. Ele alerta para o fato de que as autoridades brasileiras não estão avaliando consequências do conflito entre os Poderes, como a inevitável fuga de investidores.
As instituições representantes do agronegócio demonstraram essa percepção e o impacto negativo da crise institucional sobre as relações do Brasil no mercado internacional. Ao menos sete grandes entidades do setor — entre elas Abag, Abiove, Abrapalma e Abisolo — reivindicaram, em manifesto divulgado na segunda-feira, “liberdade para empreender, gerar, compartilhar riqueza, contratar e comercializar no Brasil e no exterior” e defenderam o Estado Democrático de Direito, instrumento que assegura essa liberdade empreendedora.
Não há como negar a importância dos resultados do agronegócio para a economia brasileira. De janeiro a agosto, influenciada pela oferta brasileira de alimentos, a balança comercial bateu recorde novamente. O saldo positivo acumulado somou US$ 52 bilhões, acréscimo de 45,7% sobre o resultado do mesmo período do ano passado. As exportações atingiram US$ 188,9 bilhões, e as importações fecharam em US$ 136,8 bilhões.
Nesta semana, os analistas de bancos e corretoras ouvidos pelo Banco Central para o Boletim Focus, de previsões sobre os indicadores econômicos, alteraram para baixo as suas projeções de crescimento da economia em 2021, de 5,30% há um mês para 5,22%. Para 2022, houve também uma redução, embora ainda tênue, de 2,10% a 2%. A carta de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) manteve suas projeções de expansão do país, de 4,8% neste ano e 2% em 2022, mas alertou para uma série de fatores que se agravam em ambiente hostil em Brasília. São eles os efeitos da crise hídrica, a piora no cenário de contágio pelo coronavírus, tendo em vista o avanço da variante Delta, e a inflação elevada.
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