Covid-19

Ana Dubeux: "Vozes da pandemia"

A um certo momento da pandemia, em que já havia um cansaço generalizado e uma tristeza profunda por tanto luto, decidi ouvir mais as pessoas. Entender se elas sentiam só desespero ou também esperança

Ana Dubeux
postado em 05/09/2021 06:00 / atualizado em 05/09/2021 10:05
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A um certo momento da pandemia, em que já havia um cansaço generalizado e uma tristeza profunda por tanto luto, decidi ouvir mais as pessoas. Entender se elas sentiam só desespero ou também esperança; se estavam enlutadas e isoladas ou se mantinham boas relações virtuais; se trabalhavam com o mesmo afinco em casa; se eram governadas por pensamentos sombrios; onde residia sua fé e o lado poético da vida, agora invertida para dentro.

Queria perguntar, porque é o melhor que o jornalista sabe fazer. E queria ter respostas que pudessem encher nossas páginas de sentido e talvez dar um senso de identidade a quem padecia com o isolamento. Aqui e ali comecei a fazer entrevistas com magistrados, políticos, padres, professores, pessoas influentes da nossa Brasília. Quase uma pesquisa qualitativa, sem qualquer intenção de chegar a um lugar científico.

Mas, com umas 30 entrevistas publicadas, posso dizer que tenho uma amostra, pequena, mas significativa e humana dos que ocupam cargos de poder ou exercem posição de influência. Como se sentem os que vestem toga, as mulheres pioneiras da magistratura, as políticas que lutaram para ocupar espaço na CPI da Covid, o padre brasiliense ameaçado, a professora premiada, a reitora de universidade, o ex-presidente, a ministra de tribunal militar?

Independentemente de cargos e de instituições, descobri muito mais semelhanças do que diferenças. O que aproxima um ser humano de outro é o que se revela depois de um certo silêncio. Ao responderem a questões sobre as grandes lições que a pandemia nos reservou, existe uma imensa sincronicidade nas respostas, que compartilho aqui.

Para todos, sem exceção, a pandemia revelou antes de qualquer coisa a absurda desigualdade brasileira, com alguns ganhando tão pouco e outros passando fome. Essa é a face mais sombria. Revelou ainda que precisamos saber conviver com o planeta de forma harmoniosa. E certamente a palavra mais bonita que emergiu de todas as conversas: a solidariedade, despontando como o atributo mais bonito e genuíno do povo brasileiro.

Deixo vocês neste domingo com uma reflexão de uma das entrevistas, a do ministro do STF Luiz Edson Fachin, publicada em maio, mas ainda válida e que mostra também que existe um longo caminho a percorrer: “A pandemia da covid-19 transformou o planeta numa espécie de sala de emergência. Transformou o presente. A humanidade está cindida entre o desejo e o querer. Depende racionalmente da ciência e, ao mesmo tempo, quiçá há quem sonhe com soluções mágicas. Pensar no futuro requer asas, mas não conseguimos ainda sair do rés-do-chão”.

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