Na esteira do avanço da vacinação contra a covid-19 em todo o Brasil, com pouco mais de 30% da população com a segunda dose da vacina ou imunizada em dose única, o radar das atenções se voltam para os graves problemas econômicos que o país enfrenta e que, em parte, ocorrem devido às turbulências em Brasília. Com a desconfiança dos investidores mantendo a cotação do dólar elevada, seca castigando as regiões Sudeste e Centro-Oeste, consideradas as caixas d’água do Brasil, inflação elevada, desemprego alto, taxa de juros subindo e atividade econômica desaquecida, será necessário um esforço de guerra para recolocar o país em rota de crescimento econômico em níveis suficientes para gerar empregos e renda e contribuir para minimizar a grande desigualdade social existente hoje e que agrava o quadro.
O brasileiro sente no bolso a realidade econômica do Brasil, hoje, longe de mostrar pujança e reação em V como gostaria a equipe do Ministério da Economia. O ministro Paulo Guedes não esboça medida ou ação para amenizar os efeitos da aceleração dos preços, sobretudo, para a parcela dos menos favorecidos da população. São esses brasileiros que estão se virando para arcar com uma inflação que é bem mais alta para os pobres.
Nas contas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a inflação para quem tem renda mensal acima de R$ 16.500 foi de 7,11% nos últimos 12 meses, enquanto para as famílias com ganho até R$ 1.650 (pouco mais do que um salário mínimo), o índice de reajuste de preços chega a 10,05%. No geral, a inflação oficial de agosto, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será conhecida nesta quinta-feira, mas a prévia, registrada pelo IPCA-15 indica inflação acumulada de 9,3% em 12 meses. E não há expectativa de recuo dos preços, sobretudo dos alimentos, com impacto da seca e da demanda externa; dos combustíveis, com pressão do petróleo e do dólar, e a energia elétrica, com aumento de mais de 100% na taxa extra este ano. Sem contar o gás de cozinha.
A carestia corrói os poucos recursos que grande parcela da população dispõe para sobreviver ao longo de um mês, diante de despesas inegociáveis, como energia elétrica, água, aluguel e alimentos. Nos aluguéis, o índice utilizado normalmente, o IGP-M, já acumula aumento de mais de 30% em 12 meses. É urgente que o governo federal tome medidas para amenizar essa situação. Transferir responsabilidades e buscar culpados ou ficar apenas observando e ironizando o impacto não vai ajudar a romper esse ciclo.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deu o tom da “guerra” que é necessária para reverter essa conjuntura de reajustes generalizados de preços: “Nosso inimigo é o preço do feijão, da gasolina, da luz elétrica. Temos que discutir isso no Brasil e não perdermos tempo com aquilo que não convém.” O alerta, carregado de senso de urgência, impõe ao Legislativo discutir e propor medidas para que a inflação não fuja ao controle. Mas a fala ocorreu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprovou, a toque de caixa, a reforma do Imposto de Renda, uma proposta muito criticada e que desonera pouco os contribuintes, pesa sobre empresas e investimentos e pode resultar no aumento do desequilíbrio fiscal. É urgente olhar para os problemas econômicos do país antes que eles arrastem a sociedade para um quadro ainda mais desfavorável.
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