opinião

Visão do Correio: Uma parte do país definha

Correio Braziliense
postado em 15/09/2021 06:00

O Brasil enfrenta a fumaça de mais uma temporada de queimadas, que novamente faz arder os olhos do mundo e dos brasileiros que têm consciência da gravidade da situação. Porém, enquanto os focos no Pantanal e na Amazônia despertam maior mobilização e alertas — mais do que justos — de entidades conservacionistas e do próprio mundo científico, um bioma de dimensões gigantescas e importância proporcional arde e vira cinzas sem fazer tanto barulho.

O cerrado estende suas características por quase um quarto de todo o território nacional, segundo o ICMBio. São 2 milhões de quilômetros quadrados com áreas de influência que chegam a ocupar unidades da federação praticamente inteiras, como Tocantins, Goiás e Distrito Federal, e grande parte de outras, caso de Minas Gerais. É o segundo maior bioma do país, atrás apenas da Amazônia. E queima em proporção bem parecida.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), enquanto 42,6% dos quase 110 mil focos de calor observados no Brasil este ano devoraram partes da floresta amazônica, nada menos que 35,3% deles se alastraram engolindo porções de cerrado. Assustador, nos dois casos, mas o bioma de árvores retorcidas e mais esparsas, com uma secura que parece um convite ao fogo e ciclo de certa forma adaptado às chamas — de origem natural — parece despertar menos comoção. Não deveria.

Além da área que ocupa no mapa e de abrigar população humana estimada em 46 milhões de pessoas, o cerrado tem importância ecológica fundamental para todo o país — e para o planeta. Sua aparente aridez disfarça um dos habitats de maior biodiversidade do globo, segundo o ICMBio. Especialistas apontam que pode abrigar até 5% da fauna mundial, e cerca de um terço da brasileira, sem contar a estimativa de cerca de 12 mil espécies da flora.

Paradoxalmente, apesar da aparente secura, suas entranhas geram um verdadeiro tesouro hídrico, o que valeu ao bioma a qualificação de pai das águas do Brasil mencionada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Berço de grandes rios, suas nascentes, segundo a mesma fonte, alimentam oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, com destaque para três: respondem por 78% das águas da bacia dos rios Araguaia/Tocantins, por 70% da Bacia do São Francisco e por 48% da Bacia do Rio Paraná. É muito para um ecossistema tão negligenciado.

É tudo isso que está em jogo cada vez que o fogo se alastra consumindo vastas áreas da savana mais biodiversa do planeta. Associadas ou somadas à expansão da fronteira agrícola, as chamas colaboraram para que praticamente um quinto (19,8%) da cobertura vegetal desse ecossistema se perdesse em três décadas e meia, segundo o projeto MapBiomas, iniciativa que envolve universidades, empresas de tecnologia e ONGs.

Todos esses indicadores apontam para um alerta urgente: é preciso salvar o que resta do cerrado — não muito mais que 50% da vegetação original. É imperioso aprender a lidar com o ciclo de estiagens, que vêm ficando mais longas e tornam o bioma mais suscetível ao fogo, ao mesmo tempo que queimadas mais severas prejudicam a disponibilidade hídrica, ao afetar a vegetação, a permeabilidade do solo e, por consequência, fazer minguar nascentes e cursos d’água.

Ainda que a urgência da situação não seja despertada pela necessária conscientização ambiental, que ela venha ao menos da lógica econômica: sem cerrado, falta água; sem água, definha a produção de energia, não há agricultura, nem pecuária. Não há vida. A sobrevivência do ecossistema, em si, já tem importância inestimável. Mas não é apenas ela o que está em risco.

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Camburão
Muito coerente o artigo do jornalista André Gustavo Stumpf, em seu paralelo da tentativa de golpe do ex-ministro do Exército Silvio Frota, em 197. Parabéns! Muito oportuno. Lembro-me daqueles dias tensos aqui na capital federal e até mesmo da “guerra” entre assessores de um lado e de outro, ao pé do avião que trazia cada general a Brasília. Só não me lembrava dos nomes que apoiavam o general Frota e que, hoje, aí estão ativamente na política palaciana. Mas, desta vez, no 7 de Setembro, o que me assustou, além da verborragia, foram as demonstrações do Ministério da Marinha. Primeiro foi o desfile, dias antes, com aquelas sucatas fumacentas de anfíbios em frente ao Palácio do Planalto, sob aplausos do presidente e de seus assessores. Imaginei que fosse demonstração de força à la Silvio Frota. Depois, no dia 7, os mesmos anfíbios sucatões emergiram do lago Paranoá, invadiram o “território” do Alvorada, simulando um resgate, sem contar os helicópteros com soldados saltando de rapel em frente à linda fachada principal do Alvorada, embora com o gramado pessimamente cuidado. Santo Deus... Temi até mesmo nos discursos, quando ouvi... “Só saio morto ou com a vitória...”. Soou-me o Getúlio Vargas, no Catete, em 24 de agosto de 1954. Ou, quem sabe, o discurso de João Goulart na Central do Brasil, dias antes de ser destituído. Temi à toa, pois Temer deu jeito e tudo não passou de bravata. Será? Tomara! Não merecemos mais outros agosto de 54 e março de 64.
Paulo Silva, Asa Sul


Mudanças?
Todo brasileiro de olhos abertos para o que está acontecendo no país, em geral, e na sua própria vida, em particular, sabe muito bem que a coisa está nebulosa. Há 1001 razões para isso, como se pode verificar todos os dias pelo noticiário. Basta dizer, para encurtar o assunto, que, segundo as últimas pesquisas de opinião, 56% da população (pesquisa Consultoria Política) acham que assim não vai e querem mudanças na ação do governo como um todo. O Brasil está em petição de miséria, diante da crise sanitária e de 15 milhões de desempregados. A pergunta, agora, é a seguinte: as coisas vão mudar para melhor depois da eleição presidencial de outubro de 2022 ou vão ficar piores ainda? Creio que vão ficar piores, com certeza, se o PT e Lula voltarem ao poder. Projeto do PT? Que diabo seria isso? Nada mais simples: o projeto do PT é não ter projeto nenhum. Em vez de trabalhar para construir um Brasil mais justo, confortável e promissor para os brasileiros, todo o esforço do partido se concentra em voltar ao poder e se locupletar do erário, como fizeram no mensalão e no petrolão. Vão voltar as oportunidades ilimitadas de negócios com o poder público. Voltarão as fortunas criadas nos porões de diversos órgãos federais. Voltam as rosemarys, os youssefs e milhares de outros como eles. Volta o caviar da Roseana Sarney, os jatinhos, os planos médicos milionários. Voltam as diárias de hotel de 8.000 euros. Permanecerá um STF obediente. Mais que tudo, ficará garantida a impunidade.
Renato Mendes Prestes, Águas Claras


Violência
A justiça brasileira tarda, falha, revolta e debocha do bom senso. Virou mania prender negros pobres injustamente. O mal e a humilhação marcam as vítimas pelo resto da vida. O Estado é vergonhoso. Não tem grandeza nem para pedir desculpas pelo buraco que fazem na honra das pessoas. Pobres e desempregados são tratados como cidadãos de segunda classe. Nessa linha das leis absurdas, únicas em um Brasil que se diz civilizado e justo, existe as inacreditáveis “saidinhas temporárias” para presos. Estão soltas, maravilhosas, flanando pelas ruas, por exemplo, Suzane, Anna e Elise. Trio ternura às avessas. As coitadas mataram, pela ordem, os pais, a enteada e o marido. Tenho ânsia de vômito.
Vicente Limongi Netto, Lago Norte


Tolerância
Obrigado, ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal. O seu discurso de alerta aos incitadores de atos violentos e ameaçadores contra a democracia trouxe, aos brasileiros que não se deixam levar por conversa fiada, um grande alívio. Como estava difícil suportar as ameaças daqueles que pensavam que podiam tudo. O basta que o senhor deu na turma foi um remédio para desestressar quem deseja que o nosso país continue sendo regido pela democracia. Valeu a pena. Os dias estão melhores. No lugar do temor, entrou a paz. O senhor fez como aquele pai que se cansa de dar conselho ao filho arteiro e, um dia, resolve mostrar que tolerância tem limite. É preciso jogar água na chama antes que ela provoque um grande incêndio. Que a paz seja para sempre. O povo quer emprego, comida no prato, crescimento econômico e custo de vida mais barato.
Jeovah Ferreira, Taquari

Desabafo

Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição

Capivara em fúria morde e finca as garras em marinheiro no Lago Paranoá, em Brasília. Imagina se fosse uma anta?
José Matias-Pereira - Lago Sul


Surpresa! Aras rejeita Medida Provisória, baixada por Bolsonaro, para legalizar a mentira e beneficiar os formadores do Gabinete do Ódio.
Humberto Vieira — Asa Norte


Fake news fazem parte da vida dos mentirosos contumazes. Decentes e honestos não precisam disso.
Joaquim Honório — Asa Sul


A oposição ao governo é forte, mas com essas estratégias e movimentos, resultados só em 2026.
Marcos Gomes Figueira — Águas Claras

 

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